Naquela noite, Mila não dormiu. Tentou. Deitou, virou de lado, ajustou o travesseiro, contou as batidas do relógio pendurado na parede. Mas a mente estava acesa demais.
O nome Kreshnik Dautaj ainda girava como vento em redemoinho na cabeça dela. Mas não era só ele.
Era a mãe.
Era a carta.
Era o vilarejo.
Era o fato de que, quanto mais ela descobria, menos parecia conhecer.
Levantou-se com os pés descalços e caminhou até a sala. A casa estava escura, mas tranquila. O tipo de silêncio que fazia as paredes respirarem.
Sentou à mesa, acendeu uma vela e puxou o recorte de jornal. Leu tudo de novo. A mesma manchete, o mesmo rosto da mãe sorrindo, o mesmo olhar fora de foco. Mas agora havia um detalhe que ela não tinha notado antes — um pequeno carimbo desbotado no canto inferior da folha.
"Biblioteka Popullore – Berat – 1988."
Biblioteca popular.
Ela se endireitou. A biblioteca em que Emine talvez tenha trabalhado — ou fundado — ainda existia? Será que alguém tinha preservado algo? Um livro