O restaurante já estava reservado. O look escolhido. E a fome emocional também.
Clara, Rebeca, Nanda e Lívia saem do elevador como se estivessem desfilando na semana de moda de Paris — cada uma com seu estilo, sua vibe, seu poder. - Clara, óbvio, à frente. Blazer preto, salto agulha, olhar de CEO com sangue de general. - Rebeca, montada no vermelho, óculos escuros e aquela língua afiada que transforma qualquer elogio numa ameaça velada. - Nanda, no combo calça de alfaiataria + camisa verde musgo, notebook debaixo do braço, com a vibe de “advogada que processa até ex com CPF irregular”… e namorada da Rebeca, por sinal. - E Lívia, doce, gordinha, romântica incurável, de vestido florido e batom rosa claro — subestimada por muitos, derrotada por poucos. A formação é clara: duas advogadas em modo “juízas de caráter”, e três desajustados morando juntos no apê 1501. — “Hoje é almoço com o Ítalo, né?” — pergunta Clara, digitando no celular sem nem olhar pra frente. — “Claro que é. Nosso oráculo gay não pode ficar sem atualização semanal.” — diz Rebeca, abrindo a bolsa vermelha pra pegar os óculos de sol. — “Inclusive, preparem-se… ele quer saber de tudo.” — “Terapia com vinho e fofoca. É tudo o que eu preciso.” — completa Lívia, sorrindo, mas com aquele olhar meio quebrado de quem ainda não superou o último ghosting canalha. Nanda dá um selinho rápido em Rebeca e comenta: — “Só não vale drama mexicano na mesa hoje, hein. Almoço de sexta é sagrado.” Enquanto elas seguem pelo corredor, Clara desacelera por instinto. O ambiente muda. O perfume no ar muda. E então… ** Dante Navarro. Camisa branca dobrada até os cotovelos. Botões abertos no peito. Cabelo bagunçado de propósito. Rosto de modelo que assalta corações e foge da cena. Clara trava por meio segundo. O cérebro dela registra: - Braço tatuado. Veia pulsando. Barba cerrada. Queixo quadrado. Perfume de homem rico e perigoso. Ela pisca. Aperta o passo. Finge que não vê. Mas vê. E vê muito. — “A obra-prima encostada na parede. Aquilo ali não é homem, é pecado premium.” — Nanda diz. Lívia sorri, os olhos arregalados: — “Parece saído de um romance erótico em promoção na A****n…” Clara respira fundo. Segue andando. - Bonito. Claro. Mas provavelmente o tipo que sabe que é bonito. O tipo que coleciona corações partidos como quem coleciona relógios suíços. — “Não preciso. Eu reconheço um problema de longe.” Lívia sorri. — “Mas que problema bonito, hein?” Clara olha rápido pro lado. Ele também. Os olhos se cruzam. Sorriso torto. Clara ergue o queixo. Passa. Como se o universo não tivesse acabado de lançar a primeira faísca. ⸻ Na calçada, Ícaro já espera. Todo de alfaiataria rosa pastel, óculos escuros da Dior, e um sorriso de quem leu a mente de todo mundo. — “Contem tudo, bruxas. Quem morreu? Quem transou? Quem se humilhou?” Rebeca dá um beijo na bochecha dele e anuncia: — “Clara aceitou o plano. Vai ensinar a Lívia como fazer homem nenhum criar raiz.” Ícaro arregala os olhos, dá um gritinho e senta: — “Pelo amor de Beyoncé. Isso vai ser melhor que qualquer novela mexicana.” Clara cruza as pernas, segura a taça de vinho que acabaram de servir, olha pro céu e pensa: - “Só espero que o universo não resolva brincar comigo dessa vez…” O garçom chega. O almoço começa. Mas… lá no prédio? Dante ainda tá parado no corredor. E por algum motivo… ainda pensando no olhar dela.