06h00.
  Clara Valentina já estava correndo pelas ruas elegantes do Upper West Side.
  Tênis branco limpo, fones no ouvido, batida de hip hop francês pulsando na cabeça.
  O ar frio da manhã cortava os pulmões, mas ela seguia com passos firmes, controlados, como se deixasse para trás — a cada passada — os cacos de tudo o que um dia quase a quebrou.
  Ela não corria só por vaidade.
  Corria porque o corpo precisava suar o que a mente não podia mais carregar.
  Corria pra fugir dos fantasmas.
  👉 Porque eles ainda estavam lá.
  No fundo da alma.
  Silenciosos.
  Aguardando o menor deslize pra puxá-la de volta.
  Quinze anos antes, ela desembarcava em Nova York com a mala de rodinhas e o coração rasgado.
  Pais mortos num acidente brutal na estrada de Pernambuco.
  Nenhum parente disposto. Nenhum colo disponível.
  Só um tio distante, irmão do pai, que aceitara “assumir a menina” como quem aceita um pacote perdido. Um tio calado, rígido… casado com uma mulher doce demais pra perceber qu