Dante abriu os olhos com a lentidão calculada de quem sabe que dormiu pouco…
…mas dormiu bem demais.
O corpo ainda pesado da batalha vencida.
A memória? Viva, pulsando.
O cheiro dela no travesseiro.
O gosto dela ainda preso na boca.
Clara.
Perigo de salto. Gosto de pecado. Pele de desgraça boa.
Esticou o braço pro lado.
Vazio.
Lençol frio.
Cama grande.
Silêncio demais.
Não entrou em pânico. Dante Rafael Navarro não entra em pânico.
Mas teve ali… aquele milésimo de segundo onde o sangue gelou.
Ela tinha ido embora.
Sem barulho.
Sem bilhete.
Sem beijo de despedida.
“Filha da puta elegante”, pensou.
Ficou ali deitado, encarando o teto, como quem revive uma guerra… e descobre que perdeu o território mais importante:
o orgulho.
Levantou devagar.
Só de cueca.
Alma exposta, pés descalços cortando o silêncio de seu próprio império.
Atravessou o corredor como quem procura um eco.
Mas tudo que encontrou foi…
Uma xícara de café abandonada.
Um prato com farelos.
E o cheiro dela, ainda impregnado