O amanhecer trouxe consigo uma sensação diferente. O ar estava mais fresco, quase como se a cidade estivesse se renovando junto comigo. O som dos pássaros era mais intenso, e as árvores que cercavam a pequena casa onde morava com Clara e Helena pareciam sussurrar segredos que eu ainda não compreendia. Nos últimos dias, a fundação estava prosperando. O que começou como uma ideia em uma mesa de café com Helena se transformou em um projeto sólido que já ajudava muitas crianças a encontrarem um lar. Às vezes, ao olhar para aquele lugar que construímos, não conseguia acreditar no quanto minha vida havia mudado. Helena ainda estava dormindo quando decidi sair para caminhar. Ela, com sua natureza calma e doce, sempre me dizia para aproveitar o silêncio da manhã. Clara já havia acordado e estava cuidando de suas pequenas atividades no jardim, algo que lhe dava uma paz que eu não conseguia explicar. Parei em frente à janela e observei o movimento lá fora. Os raios de sol iluminavam os cami
A manhã amanheceu nublada, e as ruas de Valmor estavam cobertas por um manto de neblina. O céu, sempre claro e azul nas primeiras horas do dia, agora parecia mais distante, como se estivesse refletindo a confusão que se alojava no meu peito. Algo estava prestes a acontecer, algo que eu não conseguia prever, mas que, de alguma forma, sentia que chegaria com força. Helena ainda estava dormindo quando saí de casa. A cada passo que dava, o som dos meus pés na calçada parecia mais forte, mais urgente. Eu sabia que precisava enfrentar as verdades que estavam escondidas em meu passado, que precisavam ser reveladas, não apenas para mim, mas também para os outros. Era algo que me incomodava, que me fazia acordar no meio da noite, mas que eu ainda não tinha coragem de encarar. Cheguei à fundação mais cedo do que o normal. As portas estavam fechadas, mas havia algo de diferente no ar. O silêncio que habitava aquele lugar agora parecia carregado de expectativa, como se todos os meus esforços t
O dia seguinte chegou com uma sensação de pressa e urgência. Valmor estava em sua rotina habitual, mas dentro de mim havia uma ansiedade crescente. Tudo parecia diferente agora. A descoberta de um irmão perdido, de uma verdade enterrada, me colocou em um caminho sem volta. Não havia mais tempo a perder. Quando saí de casa, as ruas ainda estavam mornas, com o sol tentando romper as nuvens, mas a neblina da manhã insistia em persistir. O peso das palavras de Rafael ecoava em minha mente, como se elas tivessem sido ditas em um tom mais grave, mais sério, como se a revelação de um irmão fosse apenas o começo de algo ainda mais complicado. Eu não sabia o que esperar, mas sabia que nada mais seria simples. No escritório, os papéis estavam espalhados sobre a mesa. Eu havia estudado os documentos à noite, relendo cada linha, cada nome, buscando um fio de esperança, uma pista que me desse mais segurança. Não havia muito o que eu pudesse fazer sozinho. Rafael estava certo – precisávamos ir a
A porta se abriu lentamente, e o que vi me deixou sem palavras. À minha frente, estava um homem mais velho, com olhos que me pareciam familiares, mas ao mesmo tempo distantes. Seu rosto estava marcado pelo tempo, mas sua postura era imponente, e sua expressão carregava um misto de curiosidade e preocupação. — Samuel… — Ele disse, sua voz soando como se estivesse tentando se lembrar de algo. — Eu sabia que esse dia chegaria. O homem à minha frente não era o meu irmão. Era o pai adotivo dele. O homem que, segundo o diretor do orfanato, o havia levado para longe de Valmor. Sua aparência me causava uma mistura de emoções. Estava diante de um homem que, de alguma forma, havia feito parte da vida de alguém que eu considerava meu, mas que, ao mesmo tempo, era um estranho para mim. — O senhor é…? — Perguntei, sem saber ao certo o que dizer. — Eu sou Samuel. Estou procurando meu irmão. Ele foi adotado por sua família, muitos anos atrás. O homem me observou com um olhar penetrante, como se
Na manhã seguinte, a brisa fresca de Valmor parecia me lembrar que, embora estivesse rodeado por memórias e pistas de meu passado, eu ainda estava perdido. A cidade, com suas ruas tortuosas e prédios antigos, parecia guardar mais segredos do que eu jamais poderia imaginar. O encontro com o pai adotivo de Victor havia deixado um gosto amargo em minha boca. Ele não sabia onde Victor estava, mas parecia ter um pressentimento de que a busca por meu irmão não seria uma jornada fácil. O homem me entregou uma chave velha, que ele dizia ser do antigo escritório de Victor, um lugar onde ele costumava passar horas trancado, aparentemente em busca de algo que só ele sabia o que era. Ele não sabia muito, mas as palavras dele ecoavam na minha mente: "Tente, Samuel. Se ele ainda estiver em algum lugar, talvez isso te ajude." Eu não sabia o que esperar desse escritório, nem se eu encontraria algo relevante, mas a chave era um sinal. Eu tinha que seguir em frente. Não poderia parar agora, não depo
A carta havia mexido comigo de uma forma que eu não esperava. As palavras, simples mas profundas, pareciam ter um peso invisível. Quem era L? O que ele queria dizer com aquilo? A sensação de que algo muito maior estava em jogo me consumia por completo, como se as respostas estivessem logo ali, ao alcance da minha mão, mas ainda assim se escondendo nas sombras. Eu precisava entender. O escritório de Victor estava repleto de pistas, e cada uma delas parecia ser um quebra-cabeça, uma peça solta que só faria sentido se fosse unida com outra. Mas a carta de L me deixava mais confuso. Era uma carta de alguém importante, mas quem seria essa pessoa? Não era possível que fosse alguém de meu passado, pois não havia nenhuma memória que me conectasse diretamente a esse nome. Mas o fato de Victor tê-la guardado, colocado-a no lugar mais privado que ele possuía, mostrava a importância daquilo. A tarde se arrastava enquanto eu revirei mais papéis, tentando encontrar algo que pudesse me dar uma pi
Após o retorno de seu primeiro encontro com a mãe, Samuel se viu mais perdido do que nunca. A visita à casa de Clara havia trazido à tona não apenas um turbilhão de emoções, mas também uma série de questionamentos que pareciam não ter fim. Como ele poderia seguir em frente com tantas dúvidas sobre quem realmente era? E, mais importante, como poderia continuar a jornada de reconstrução de sua vida enquanto o peso do seu passado parecia tão presente?O silêncio que reinava em sua casa naquele final de tarde parecia ensurdecedor. Clara, agora internada em uma clínica especializada, estava bem, mas sua memória parecia flutuar entre a lucidez e a confusão. Ele sentia que, apesar de finalmente ter encontrado um pouco da verdade, ainda havia um abismo entre ele e as respostas que buscava.A tarde avançava lentamente, e as sombras se estendiam pelo chão de madeira do seu novo lar. Samuel estava sentado na sala de estar, os pensamentos indo e voltando entre as memórias do orfanato e os rostos
O sol havia desaparecido no horizonte, e Valmor estava envolta em uma leve brisa que suavizava o calor da tarde. Samuel olhava pela janela, contemplando a cidade silenciosa à medida que as luzes se acendiam uma a uma, criando uma paisagem tranquila, mas com um peso de melancolia em seu coração. A sensação de estar em um limbo entre o passado e o presente, com todas as perguntas sem resposta, estava se tornando cada vez mais difícil de ignorar.Helena, após uma breve conversa, havia se despedido para voltar para casa. Samuel sentiu a ausência dela imediatamente. Ela, com sua presença calma e palavras de encorajamento, sempre parecia trazer um pouco de clareza ao turbilhão mental que ele sentia. Mas agora, ele estava sozinho com seus pensamentos, e as dúvidas o consumiam novamente.Ele levantou-se e caminhou até a cozinha, decidindo que precisava fazer algo para distrair a mente. A sensação de estagnação estava começando a incomodá-lo. Ele colocou a chaleira para ferver, seus moviment