A carta misteriosa que recebi na noite anterior continuava sobre minha mesa, dobrada cuidadosamente como se as palavras ali pudessem explodir a qualquer momento. Eu a relia pela quinta vez, tentando captar algo além da ameaça. Aquela frase — “Você está mais perto do que imagina. Mas cuidado: algumas heranças cobram um preço alto” — era uma faca de dois gumes. Estava perto do quê? Da verdade? Da minha família? Da ruína?
Enquanto as perguntas me corroíam, o dia amanhecia com as obrigações de sempre. Helena me chamou logo cedo para ajudar com a horta. As crianças haviam plantado ervas e vegetais no mês anterior, e agora as primeiras folhas brotavam tímidas entre a terra. Estar ali, com as mãos sujas de solo e o sol morno nas costas, era uma pausa preciosa no caos.
— Olha, tio! Tem tomate crescendo aqui! — gritou a pequena Clara, apontando entusiasmada.
— E aqui tem cenoura! — emendou Davi, puxando as folhas com tanta força que trouxe uma cenoura minúscula, mais fina que um dedo.
— Is