Por mais que eu tentasse seguir meu dia normalmente, o carro preto estacionado em frente ao orfanato permanecia fixo na minha mente como um alerta constante. Não era o tipo de veículo que se via por ali. Era elegante demais, escuro demais, silencioso demais. Parecia pertencer a outro mundo — um mundo que eu mal começava a compreender.
— Está lá outra vez — murmurei, encostado na janela da sala de leitura, observando pela fresta da cortina.
— Desde ontem à noite — respondeu Helena, cruzando os braços, também olhando de soslaio. — Alguém está nos vigiando, Arthur.
Essa certeza crescia dentro de mim como uma semente de medo. Havia alguém que sabia o que eu procurava… e não gostava disso. Aquela carta não foi uma simples advertência. Era uma ameaça. E agora, esse carro... uma presença muda, constante, como um vigia das sombras.
O mais difícil era tentar agir como se tudo estivesse bem. As crianças não podiam notar nada. Especialmente os pequenos, que se assustavam com facilidade. Por