Aquela manhã começou como todas as outras: cinza, pesada, sufocante. Levantei da cama sem vontade, com o corpo arrastado e a alma mais cansada do que o corpo. Não esperava nada. Já não esperava há dias. Ou, pelo menos, fingia não esperar.
Mas, mesmo assim, o ritual me arrastou até o portão. O sol mal nascia, e a rua ainda parecia adormecida. Coloquei a mão na caixa de correio, sem fé, só para cumprir o costume. E foi então que senti.
Um envelope.
Por um segundo, pensei que fosse ilusão. Meu coração disparou, minhas mãos tremeram tanto que mal consegui puxar o papel para fora. Era um envelope simples, sem marcas, sem remetente. Só meu nome escrito à mão, num traço que reconheceria mesmo de olhos fechados.
Haruki.
As pernas quase falharam. Encostei no portão para não cair. Senti o mundo inteiro desabar sobre mim e, ao mesmo tempo, abrir-se diante de mim. Respirei fundo, mas o ar parecia escapar. Demorei minutos só para reunir coragem de rasgar o lacre.
E lá estava. Uma fol