Já perdi a conta dos dias desde que deixei a carta no correio. Cada manhã é igual e, ao mesmo tempo, pesa de um jeito novo. Levantar da cama virou uma decisão que preciso tomar toda vez. Um esforço. Um empurrão. Mesmo quando não quero, me obriguei — ou o corpo me obriga — a levantar cedo, como se existisse uma regra invisível que eu tenha de seguir.
Corro até o portão com o coração batendo alto, esperando qualquer coisa que nem sei nomear. Não há nada. Só o frio da manhã que entra pelo peito da camisa, o fio de fumaça das chaleiras nas casas vizinhas, o som das pessoas apressadas lá na rua — passos, um motor, alguém gritando o horário do ônibus. O carteiro passa algumas ruas acima, nunca aqui. Fico parada no quintal de pijama, abraçando a mim mesma, rindo por dentro e me achando ridícula. Miserável também. As duas coisas ao mesmo tempo.
No quarto, até os móveis parecem me julgar. A mesa de estudos coberta de poeira, o espelho que eu evito — não é que eu não queira olhar, é que tenho