Nunca pensei que o silêncio pudesse pesar tanto. Ele está em todos os cantos da casa, como se tivesse se tornado mais um morador. Às vezes até acho que consigo ouvi-lo respirar comigo, me acompanhar no corredor, deitar ao meu lado quando tento dormir. O silêncio é o único que nunca vai embora.
Minha mãe passa os dias sentada na cozinha, mexendo numa xícara de café que sempre esfria antes mesmo de ela levar aos lábios. Ela olha para frente, mas não vê nada. O olhar dela atravessa paredes, atravessa pessoas. Eu falo com ela, às vezes, mas sinto que minha voz não chega. É como se estivesse gritando dentro de um sonho.
Meu pai quase não para em casa. Sai cedo, volta tarde, e quando está aqui, seu rosto está sempre escondido atrás de alguma preocupação invisível. Ele não me olha. Ou, talvez, ele não consiga. Acho que a dor dele o cegou.
E eu? Eu fico entre os dois, como uma ponte rachada, prestes a desmoronar. Tento não chorar na frente deles, mas às vezes não consigo. Tento sorrir, ma