Haruki
A noite caiu com uma lentidão que parecia zombar de mim.
O ar de outono trazia o cheiro úmido da terra e das folhas molhadas que o vento arrastava pela rua. Eu andava sem pressa, cada passo soando como uma confissão. O eco de seus olhos ainda me perseguia — aquele olhar da Emi, meio assustado, meio esperançoso, que parecia implorar para que eu ficasse.
Mas o que eu poderia ter dito?
O que se diz depois de anos de silêncio e feridas?
Quando cheguei em casa, a pequena lanterna pendurada na varanda balançava com o vento. A luz projetava sombras longas no jardim — as mesmas que me lembravam da minha infância, quando voltava correndo da escola e via minha mãe me esperando na porta.
Engoli em seco.
Não queria lembrar. Mas era impossível não lembrar.
Entrei, tirei os sapatos, e o tatame rangeu sob meus pés. A casa parecia maior naquela noite, mais fria.
Deixei o casaco na cadeira e me sentei no chão da sala, diante da janela. O reflexo no vidro mostrava um rosto que eu mal reconhecia