Haruki
O som do despertador cortou o silêncio antes mesmo que eu abrisse os olhos.
Não sei se dormi. Talvez tenha apenas ficado deitado o tempo todo, observando a luz mudar de cor atrás da cortina.
O amanhecer tem um jeito cruel de lembrar a gente de tudo o que ainda dói.
Sentei-me devagar, a cabeça pesada, o corpo cansado.
O ar frio da manhã entrou pela janela entreaberta e trouxe o cheiro de terra molhada — choveu de madrugada.
Do lado de fora, o jardim parecia mais vivo, como se nada tivesse acontecido.
Mas dentro de mim, algo havia mudado.
Passei a mão pelos cabelos e olhei para o chão.
Não havia nada de extraordinário naquele dia — só o mesmo quarto simples, o mesmo tatame gasto, as mesmas paredes silenciosas.
Mas o mundo parecia diferente.
Talvez porque, pela primeira vez em anos, alguém pronunciou meu nome com emoção.
E essa lembrança, mesmo dolorosa, me fez respirar de outro jeito.
Levantei e fui até a cozinha. Preparei o chá sem pensar muito. Os gestos eram automáticos — água