O mundo parecia sustentar-se sobre aquele fio invisível que unia o olhar de Haruki e Emi. O silêncio estava tão carregado que cada respiração se tornava audível, quase palpável. Havia uma estranha simetria entre eles: dois irmãos separados por dores profundas, mas agora reunidos diante da possibilidade de dizer o indizível.
 Emi foi a primeira a vacilar. Seus lábios tremeram, as mãos inquietas, apertando o tecido da saia como se aquilo pudesse conter a tempestade dentro dela. O coração batia tão rápido que doía.
 — Onii-chan... — repetiu, mas dessa vez sua voz saiu mais clara, mesmo que embargada.
 Haruki piscou devagar, como se a palavra tivesse atravessado uma muralha interna. Aquela forma de chamá-lo, tão íntima, tão familiar, trazia de volta memórias que ele tentara enterrar. Recordou-se de quando ela o seguia pela casa pequena, ainda criança, pedindo ajuda com os deveres da escola, ou simplesmente insistindo para brincar. E recordou também do quanto tudo isso havia se deteriorad