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Capítulo 5 - As Chamas e as Correntes

Ao voltarem para Valemar, algo estava diferente. A cidade parecia... parada. As pessoas andavam lentamente, sem olhar para o céu, sem falar entre si. Era como se a esperança tivesse sido drenada gota a gota — e ninguém tivesse notado.

Noah sentiu uma pressão no peito ao cruzar a praça principal. Estava suando frio, e as letras do livro pulsavam sozinhas.

— Ele está aqui — sussurrou.

Kaori olhou ao redor. Sentia seu corpo esquentar. O calor vinha do peito e se espalhava pelos braços e costas, como lava prestes a romper a pele. Ela caiu de joelhos, arfando.

— Kaori! — Noah correu até ela.

As costas da garota se arquearam, e duas asas flamejantes brotaram de suas costas como se rasgassem a realidade. O fogo não queimava o chão — mas flutuava no ar como dança viva. Os olhos dela brilharam em dourado, e uma voz gutural ecoou de dentro:

— A alma do dragão acordou...

Mas junto ao despertar veio a dor. A transformação não era completa. Havia correntes invisíveis em torno do coração de Kaori — correntes que prendiam sua verdadeira forma.

Lyra, que viera em silêncio, observava.

— Ela precisa romper o selo do sangue. E você, Noah... precisa descobrir a origem da sua magia. Só assim terão forças para enfrentar o BREU.

Kaori, mesmo sem entender totalmente, sentia: havia algo dentro de si que precisava ser libertado, uma dor antiga que não era só sua. E o mesmo valia para Noah.

No dia seguinte, Noah seguiu o livro até um antigo cemitério coberto de neblina. No centro, havia uma lápide apagada. Ao tocá-la, uma imagem invadiu sua mente: um homem com olhos iguais aos seus, encapuzado, lutando contra uma criatura feita de sombras líquidas.

Era seu pai. Um feiticeiro esquecido — apagado pelo BREU antes mesmo do nascimento de Noah.

> Seu poder vinha do esquecimento. Mas sua força nascia do amor que restara.

Noah caiu de joelhos, e pela primeira vez, o cajado que carregava se iluminou por vontade própria. Runas douradas brilharam ao redor, e ele compreendeu: sua magia vinha da memória ancestral dos esquecidos.

Quando voltou para Kaori, ela já o esperava. As correntes em torno dela estavam rachando.

— O BREU sabe que estamos perto de descobrir tudo — disse ela.

— Então que venha — respondeu ele. — Estamos prontos.

> Ou assim pensavam...

Porque naquela mesma noite, algo se arrastou pelas ruas silenciosas de Valemar, trazendo o primeiro sacrifício.

A névoa caiu sobre Valemar como um véu espesso. Ninguém notou quando a lua desapareceu. Ninguém viu quando as luzes começaram a apagar uma a uma. Mas todos sentiram.

Um frio que não vinha do vento, mas do vazio.

Kaori acordou com um pressentimento. O fogo dentro dela se agitou como se pressentisse perigo. Noah também acordou suando, o livro tremendo em suas mãos.

— Ele chegou — disse, e a frase foi como um eco no peito dos dois.

Pela primeira vez, o BREU se manifestou por completo. Não como sombra, mas como uma criatura sem forma definida. Era névoa viva, olhos flutuantes, sussurros de todos os que haviam desistido da esperança.

E não estava sozinho.

Fadas escuras voavam em espirais caóticas, espalhando pólen do esquecimento. Lobisomens de pelagem prateada arrastavam correntes presas aos próprios corpos. Havia criaturas feitas de ossos, outras de espelhos quebrados, todas com olhos que choravam trevas.

O ataque foi direto. A praça central de Valemar foi engolida em segundos.

Kaori e Noah correram para proteger os moradores, mas foi tarde demais para alguns. Uma criança desapareceu diante dos olhos deles, tragada por uma das fadas. Um ancião se ajoelhou e simplesmente... esqueceu quem era.

E então, a tragédia.

No meio da confusão, Lyra foi cercada por sombras líquidas. Kaori gritou, tentou voar, mas as correntes ainda a prendiam. Noah lançou feitiços, mas o BREU parecia se alimentar deles.

Lyra olhou para eles e sorriu.

— Vocês... ainda têm tempo.

E, com um gesto suave, explodiu em luz, dissipando momentaneamente a névoa, mas ao custo da própria existência.

Kaori gritou.

Noah caiu de joelhos.

— Não... não pode ser.

Mas a luz que ela deixou para trás formou um símbolo no chão — um selo antigo, dourado e pulsante.

> Era o caminho para a Fortaleza do Fim, onde o BREU nascera.

Lyra dera sua última memória como chave. O primeiro sacrifício havia sido feito. E agora, não havia mais volta.

Kaori caiu em prantos, e uma de suas lágrimas tocou o chão. Onde caiu, uma flor de fogo nasceu. O dragão chorava. E o mundo, pela primeira vez, chorava com ele.

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