O selo deixado por Lyra pulsava como um coração enterrado no chão. Dele, um feixe de luz subiu ao céu escuro, rasgando a neblina por um instante. Era o caminho — mas também um aviso.
A estrada para a origem do BREU estava aberta. Kaori ainda sentia a dor da perda. A flor de fogo que brotara de sua lágrima permanecia acesa, resistindo ao vento e à escuridão. Ela a segurou nas mãos. — A Lyra acreditou até o fim... agora é nossa vez. Noah, mais calado do que nunca, passou a noite estudando o símbolo que surgira. As runas falavam de um lugar fora do tempo, onde tudo começou: a Fortaleza do Fim, erguida sobre as ruínas da primeira esperança roubada. — Dizem que quem entra lá volta diferente... ou não volta — murmurou ele. Mesmo assim, não hesitaram. Ao atravessarem o selo, o mundo se curvou. Tudo ficou cinza. O céu não tinha fim, mas também não tinha cor. O chão era feito de memórias esquecidas — brinquedos quebrados, retratos sem rosto, cartas jamais entregues. O BREU havia construído sua fortaleza sobre o desespero do mundo. E ela estava ali, ao longe. Uma torre alta e retorcida, feita de espelhos escuros e espinhos, flutuando acima de um abismo. Portões de ferro selavam sua entrada, com símbolos de dor e silêncio gravados nas barras. Kaori sentiu o fogo crescer dentro de si. As correntes ao redor de seu coração estavam enfraquecendo — cada batalha, cada perda, cada escolha partia mais um elo. Noah estendeu o livro, e as páginas se viraram sozinhas. Um feitiço se revelou, mas era incompleto. — Falta uma última peça — disse ele. — Um fragmento da origem do BREU. Só com isso podemos selá-lo para sempre. > E havia apenas um lugar onde esse fragmento existia: no coração do BREU. Eles teriam que enfrentá-lo não apenas com força, mas com tudo o que haviam esquecido de si mesmos. Antes de entrarem, Kaori tocou o ombro de Noah. — Se algo acontecer... quero que saiba que você me devolveu a esperança quando eu já havia desistido de mim. Ele a encarou. — E você me fez acreditar que eu era mais do que meu passado. Se eu tiver que cair, que seja lutando por isso. De mãos dadas, atravessaram os portões. > E atrás deles, o selo se fechou. Dentro da fortaleza, os ecos dos antigos guardiões os esperavam. E o BREU, pela primeira vez, sussurrou: — Vocês vieram... prontos para serem esquecidos? A Fortaleza do Fim não era feita de pedra ou aço — mas de lembranças distorcidas. Cada passo que Kaori e Noah davam os mergulhava em uma memória esquecida, roubada por aquele que tudo consome: o BREU. As paredes sussurravam vozes familiares, distantes, como se chamassem por socorro... ou como se acusassem. No primeiro salão, o ar pesou. Um espelho gigante surgiu, e dele saiu um guerreiro feito de névoa sólida, olhos sem alma, armadura rachada. Ele carregava um brasão antigo, o símbolo dos Guardadores da Luz, uma ordem extinta — traída pelo próprio medo. — Eu fui como vocês — disse ele, com voz feita de vento. — Lutei contra o BREU... e perdi. Como todos os outros. Kaori avançou, chamas nos punhos. — Não somos como todos os outros! Mas o Guardião não era apenas uma sombra — era o reflexo da dúvida. — Você tem medo de si mesma. Tem medo do que se tornará se libertar o dragão por completo. E você, menino da magia... ainda chora pelo pai que nunca conheceu. O chão tremeu. Vários espelhos se ergueram ao redor, e de cada um saiu uma figura. Havia um jovem elfo com asas partidas, uma feiticeira cega, uma criança que cantava enquanto chorava sangue. — Todos eles foram heróis — sussurrou Noah. — Todos... falharam? — Não falharam — disse uma voz, diferente das outras. Era Lyra. Não como antes. Um fragmento de sua alma, preservado pela luz que ela sacrificou. Ela apareceu entre os espelhos, radiante. — Eles deram tudo o que tinham. E agora, vocês carregam as escolhas deles. O fogo de Kaori explodiu, não em destruição — mas em cura. As chamas tocaram as sombras, que gritaram, e se transformaram em poeira de luz. Noah, por sua vez, ergueu o livro, e uma página dourada se escreveu sozinha: "Eco dos Caídos, levantai-vos como memória viva." As sombras viraram estrelas. O salão escureceu. No centro, surgiu uma escada infinita que levava ao coração da fortaleza. Kaori olhou para Noah. — Estamos chegando lá. Ele assentiu. — E agora não carregamos apenas nossos sonhos... mas todos aqueles que sonharam antes de nós. > A esperança, perdida em tantas eras, havia se acendido novamente. Mas o BREU sentiu. E se preparava para fazer o que fazia de melhor: apagar.