Você provavelmente deve viver uma vidinha comum como todos os outros ao seu redor.... Levanta cedo pela manhã e sempre se depara sempre a sua mesma imagem no espelho… Normal.... Ninguém quer saber se tem algo lá do outro lado, mas tudo bem.... Espera-se que pelo menos que você não fique obcecado pelo seu próprio reflexo. Nesta história da Era Medieval, um cego que nunca viu a si mesmo queria ter visões de anjos... E para completar, no reino onde vive desaparece uma relíquia e seu grupo de amigos decide ir até um lugar proibido para tentar encontrá-lo. Só não imaginavam que se deparariam com uma suposta vidência perigosíssima para seu destino. Se você tem medinho de bruxas, fantasmas ou criaturas mágicas, corra para bem longe e nem abra esse livro. Ou se preferir, comece a ler já, antes que o escondam. Afinal, certas criaturas têm vida própria. E se você já viu uma delas, por gentileza, não se esqueça de me contar.
Leer másPERSONAGENS:
SENHOR CEGO
VIDENTE
CAMPONESA
BRUXA
BANDIDO I
BANDIDO II
FANTASMA
FAUNO
CLÉRIGO
PADRE
MONGE
ESCRAVO
BOBO
ANÃO
CAVALEIRO
NINFA
REI
CENA I: O SENHOR CEGO E A CAMPONESA
SENHOR CEGO: É tempo de inverno... As folhas estão cobertas de gelo, o chão está gélido onde as árvores pisam e se sente um sopro duro do vento. Os cavaleiros aqui guardam suas espadas afiadas e mal protegem o castelo do rei. Veem-se pingos de sangue em meio ao branco da neve... Nessas horas, somente o fogo do Senhor aquece até as almas... Mas me diga como você está, flor dos campos?
CAMPONESA: Eu tremo de frio neste dia, só tenho um pedido para fazer: eu quero o pão de cada dia: este só Deus pode me dar. O trigo já está congelado nos campos esbranquiçados. Oh, frio maldito!
SENHOR CEGO: Já ouvi dizer que o inferno é tão frio quanto o inverno. Lá as serpentes se encantam com o gelo e deslizam maravilhosamente nele. Há-há!
CAMPONESA: Mas aqui as plantações que não estão dando colheitas. Estão amaldiçoadas!
SENHOR CEGO: Então você acredita na magia das bruxas?
CAMPONESA: Elas só podem ser as culpadas pelos campos não estarem mais verdejantes!
SENHOR CEGO: Eu queria sentir o perfume de jasmim e saber que eles estão florescendo!
CAMPONESA: Eu sou pobre, o suor de minhas mãos me sustenta, mas desse jeito com essas guerras fica cada vez mais difícil viver nesse reino! Eu tenho poucas moedas para pagar o dízimo. E tenho medo que cortem a minha cabeça por pedir ajuda às curandeiras!
SENHOR CEGO: Ó que Deus traga paz a este lugar!
CAMPONESA: Coitada de mim, eu tenho ainda por cima que trabalhar para os feudos e a cavalaria mal protege a terra! Aparecem bandidos e mais bandidos que saqueiam o pouco de milho que plantei nos últimos meses! Tenho mais cinco filhos para sustentar e meu marido só quer saber de cervejas ao invés de cuidar dos afazeres da casa! No meu lar as crianças choram de fome e eu, a coitada de sempre espero que a minha dor nas costas acabe! É um peso que carrego sozinha...
SENHOR CEGO: Mas não tens médicos pelo vilarejo? Ou por acaso nem isso o senhor feudal te oferece?
CAMPONESA: Ah! O senhor feudal cumpre o quê como prometera? Vive do que lhe apetece e as regalias dele são do tamanho de trezentas colheitas. Sou muito maltratada! Olhe para as minhas vestes! Eu não estou me vestindo como a realeza para garantir seus privilégios!
SENHOR CEGO: Mas...
CAMPONESA: Nestes dias, o gado ficou louco, estava inquieto, não realizava o trabalho direito e eu tive que cobrir todos os gastos por causa dessas pragas!
SENHOR CEGO: E....
CAMPONESA: Sim, porque o gado louco é obra de bruxaria, só pode. É como a Igreja diz, elas devem ser queimadas, porque tudo é culpa delas!
SENHOR CEGO: Porém...
CAMPONESA: Ora, ora, é claro que essas malditas não oferecem nada do que é sagrado. São umas espertas! Astutas! As feiticeiras de hoje fazem essa magia negra para ganharem o quê em troca? Nem alimento elas teriam sem as obras de nossas mãos! Mas fazem isso com o nosso árduo trabalho! Desgraçadas!
SENHOR CEGO: Espere! Mas há uma coisa que eu pergunto para mim mesmo: onde eu encontro os seres alados?
CAMPONESA: Oh velho homem, então... Eu não sei... Você é cego, talvez um dia Deus lhe faça um milagre...
25 - CENA XXV: OS ANJOS[Cavaleiros se reúnem na praia para enfrentar o monstro].CAVALEIRO: Chegou o dia em que teremos que enfrentar a besta!SENHOR CEGO: Estão preparados para morrer na presença do monstro?CAVALEIRO: A morte me aflige, mas estou aqui firme e forte.SENHOR CEGO: Estou orando o tempo inteiro.CAMPONESA: Ei, eu vejo algo se movendo neste espelho...CAVALEIRO: Eu posso ver uma luz no fundo...SENHOR CEGO: Ó Pai dos céus, abençoe-nos e proteja-nos neste momento.CAMPONESA: Não é possível, eu não vejo nenhuma besta nos oceanos, mas eu vejo uma luz vinda dos céus!SENHOR CEGO: Nossa! Eu só sinto a brisa e o barulho das águas...&nbs
24 - CENA XXIV: A VIDENTE E O CAVALEIROVIDENTE: Quantas vezes você demonstrou muita paciência com este mundo...CAVALEIRO: Oh, quantas vezes eu orei e nada se realizou. Pelo visto Deus não quer que eu realize um sonho... Pode ser apenas um desejo em meu coração e tudo isso tem um destino... Como eu gostaria de mudar o que me fere às vezes... Como eu gostaria de me libertar deste passado...VIDENTE: Mas e quanto a sonhar?CAVALEIRO: Sonhar... Sonhar é preciso, mas parece que os sonhos me tornaram uma vítima deles, pois sinto meu coração partido e ensanguentado ao chão, sendo pisoteado pelo azar do acaso. Que se cumpra a ordem de Deus... Que se cumpra sua vontade divina. Eu não sei o que fazer, mas eu oro e oro... Tamanhos são os traumas dos guerreiros enquanto a
23 - CENA XXIII: O FANTASMA DO CEMITÉRIOCAVALEIRO: A verdade é que todos querem se livrar da morte. Todos querem se livrar do sofrimento. Como posso acreditar assim em quem poderia estar sonhando? O ceguinho é nosso amigo, eu fui protegê-lo na floresta proibida. O grande problema é que sei que não posso fugir desta convocação. Mas o medo assola meu íntimo.CAMPONESA: Eu não posso ser você, não posso ser dona de seu corpo e nem de sua mente, mas eu também temo esta história, eu temo essas mortes. Eu não sei de que tamanho é este monstro e nem o que ele é, mas ele deve estar faminto e sedento por sangue.CAVALEIRO: Sim, e eu devo enfrentá-lo com outros cavaleiros. Não sabemos o tamanho do exército, mas sei que o único que nos salvará &eacu
22 - CENA XXII: O MEDO DO MONSTROSENHOR CEGO: Oh, Senhor dos exércitos! Eu lhe peço que me protejas do mal que está por vir. Eu não gostaria de orar de boca para fora, mas de sentir tua presença com uma fé inabalável. Ó Senhor dos céus e da Terra, tu criaste o firmamento e desde a criação abençoou os humanos amados por ti que vivem errando o sentido de sua própria existência. Tu criaste as águas, a terra, o chão firme onde piso, os céus com as estrelas faiscantes, o sol e a lua. Tu criaste os animais, as aves que voam livremente no alto como teus anjos de luz. Tu criaste a natureza e as mais belas árvores, flores e plantas. Tu criaste o homem e a mulher e o Jardim do Éden para eles que comeram do fruto proibido oferecido pela serpente e de lá foram expulsos. Protege-nos de todo o mal em tuas
21 - CENA XXI: NO CASTELOSENHOR CEGO: Viemos aqui no castelo, pois encontramos na floresta o cálice perdido, vossa majestade.REI: Ora, ora. Alguém veio devolver o cálice perdido. Agora nossa igreja ficará feliz com o aparecimento da relíquia roubada. O que posso fazer por vós? Querem uma retribuição?SENHOR CEGO: Vossa majestade, eu gostaria muito de voltar a ver como antes um dia pude. Mas temo que isso seja impossível. Estes castelos são muito grandes, mas grandioso é o amor do Senhor que já me fez enxergar anjos ainda que cego.REI: Então peça algo como prêmio que seja possível. Que tal cem soldos?SENHOR CEGO: Bem, eu aceito o que o vosso coração querer.REI: Está bem, então faremos
20 - CENA XX: NO JARDIM DOS FAUNOSFAUNO: Então, você pode me ver no espelho?CAMPONESA: Sim, posso.SENHOR CEGO: Este parece um lindo dia, pena que não posso ver nada. Aqui é o Jardim dos Faunos...CAVALEIRO: Nunca imaginei pisar aqui. Aqui é belíssimo.FAUNO: Tenho algo para lhe contar: Diz a lenda que há uma flauta tocada pelos faunos que pode acordar um monstro das profundezas do oceano. Este monstro é um gigante que pode destruir o seu reino e o nosso.ANÃO: O que são faunos afinal de contas?FAUNO: Somos criaturas metade humana, metade bode. Vivemos em um jardim escondido dos humanos. Muitos são maus e podem nos atacar. Muitos têm medo de nós, pois pensam que somos criaturas das trevas, enfeitiçadas, amaldiçoadas.
Último capítulo