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Capítulo 4 - A Guardiã das Memórias

A floresta do esquecimento tinha um nome que ninguém mais lembrava.

Kaori e Noah seguiram trilhas que mudavam de lugar. Árvores com troncos retorcidos murmuravam palavras de antigas canções — mas suas vozes eram baixas, como sussurros de quem teme ser ouvido.

O livro só dava uma pista:

> "Procurem a árvore que chora espelhos. Lá, a guardiã ainda resiste."

— Isso não faz sentido — murmurou Noah, enquanto um galho se transformava em serpente e voltava a ser madeira num piscar de olhos.

— Nada aqui faz — respondeu Kaori, segurando o medalhão da mãe no pescoço como um talismã contra a loucura. O ar era denso. A cada passo, ela esquecia por que estavam ali. Noah teve que lembrá-la duas vezes.

Eles começaram a perder as palavras. Os nomes. Até que...

Uma canção ecoou.

Do meio da floresta, uma melodia assobiada cortou o ar como raio de sol. Era familiar, reconfortante, e os fez lembrar. Lembrar de tudo.

Seguiram o som até uma clareira onde havia uma árvore branca como os ossos da lua. E em seus galhos pendiam... espelhos. Pequenos, quebrados, enfumaçados. Cada um refletia memórias — algumas alegres, outras terríveis.

Diante da árvore, sentada sobre uma raiz viva, estava Lyra.

Ela parecia jovem e antiga ao mesmo tempo. Tinha olhos de mar profundo e cabelos que flutuavam como se estivessem sob água. Ao ver os dois, ela não sorriu — mas os reconheceu.

— Estão atrasados — disse.

— Você é Lyra? — perguntou Noah.

— Fui chamada assim. Mas agora sou... o que sobrou.

Lyra explicou que cada espelho na árvore era uma memória roubada pelo BREU, resgatada por ela antes que se perdesse de vez. Mas a árvore enfraquecia. O BREU estava mais perto do que nunca.

— E se ele vencer... todos esquecerão. Até o tempo esquecerá que existiu.

Kaori caiu de joelhos. — Minha avó... já não lembra de mim.

Lyra se aproximou e tocou o ombro dela.

— Ainda há esperança. Vocês são âncoras. Enquanto lembrarem um do outro, há uma chance. Mas precisarão enfrentar o Guardião do Vazio... o único capaz de apagar até os corações.

Ela então estendeu um espelho para Noah. Nele, a imagem de uma criança chorando — era ele, pequeno, sozinho, esquecendo o nome dos pais.

— Este é o preço. Para seguir adiante, precisam entrar em si mesmos. E enfrentar o que o BREU não conseguiu apagar.

Kaori e Noah se entreolharam. Estavam prontos para a jornada que viria.

Mesmo que custasse as próprias memórias.

Lyra os levou até um espelho maior, cravado no tronco da árvore que chorava lembranças. Ele não refletia o rosto de ninguém — apenas mostrava um céu vazio, sem estrelas. Quando o tocaram, foram sugados para dentro dele, caindo em um abismo sem fim.

Não era um lugar. Era um sentimento.

Kaori caiu em um campo queimado, onde não havia cor, nem som, nem calor. Ela se levantou devagar, com dificuldade — como se o próprio chão tentasse segurá-la.

De repente, ouviu uma voz familiar.

— Por que você continua lutando? Vai acabar como sua mãe... esquecida até por você mesma.

Era ela mesma, mas vestida de trevas. O fogo não vinha, as asas não respondiam. A criatura diante dela era feita de insegurança, medo e raiva. E Kaori sabia: era sua sombra.

Noah, por sua vez, acordou em um quarto gelado. Era o orfanato. Lá estavam as camas, o cheiro de mofo, o ranger da porta. E a voz:

— Ninguém se importa, Noah. Nem mesmo ela. Você é só um instrumento.

Era o diretor do orfanato, mas com os olhos brancos e o rosto derretido como cera. Noah tremia. O livro em suas mãos estava em branco. O medo de não ser amado, de ser esquecido, o paralisava.

Ambos estavam diante do que o BREU não precisava apagar — porque vivia dentro deles.

Mas então, a luz rompeu.

Kaori viu o rosto de Noah em sua lembrança. Ele dizia: “Eu acredito em você.”

E Noah ouviu a voz de Kaori: “Você tem um lar em mim.”

As palavras reacenderam o que havia sido apagado.

Kaori se levantou, e mesmo sem fogo, olhou para sua sombra e disse:

— Você pode gritar, mas não vai me calar.

A sombra gritou e sumiu como fumaça ao vento.

Noah escreveu uma única palavra no livro vazio: esperança. E o quarto desabou, levando a criatura com ele.

Eles acordaram de volta à floresta, exaustos, mas vivos. Lyra estava lá, sorrindo.

— Vocês enfrentaram o Guardião do Vazio. Agora, carregam algo que o BREU não pode apagar: um ao outro.

Kaori segurou a mão de Noah.

> Mas no horizonte, uma nuvem negra se erguia sobre Valemar. O BREU sabia que eles estavam prontos. E agora, ele também estava.

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