Gustavo

O portão de ferro se abriu devagar, rangendo como sempre. O jardim continuava perfeito, milimetricamente aparado. A casa branca com janelas simetricamente limpas parecia exatamente a mesma de quando eu era adolescente. Talvez porque aqui o tempo não tivesse permissão pra passar, pelo menos não da forma natural.

Suspirei antes de subir os três degraus. O jaleco ficou no carro. Hoje eu era só o filho, não o médico da emergência, o chefe de plantão, o herói de ninguém.

A porta se abriu antes mesmo de eu tocar a campainha.

— Meu filho! a voz da minha mãe veio antes do perfume caro que sempre usava nas missas de domingo. Maria Lúcia Mendes. Elegante até pra ir dormir. Me recebeu com um abraço curto, calculado, e um sorriso que nunca chegava completamente aos olhos. — Você está mais magro. Não tem comido direito?

— Tô bem, mãe sorri de lado, beijando seu rosto. — Só muito trabalho.

Antes que eu pudesse entrar direito, ouvi os passos firmes do meu pai no piso de madeira polido.

— G