CRISTINA SANTIAGO
Aquela cena no bar parecia ter saído de um roteiro de novela mexicana. Eu, ali, pronta para perder a cabeça, quando Beatriz, minha própria irmã, mostrava suas garras diante de todos. E, então, como se fosse o herói inesperado de um filme, aquele homem surgiu e me protegeu. A raiva de Beatriz quase engasgava no ar, mas ela não teve coragem de peitar alguém que era dois palmos mais alto que seu amigo. Ainda assim, não perdeu a chance de despejar seu veneno. — Aproveita bem essa companhia, Cristina, porque depois do divórcio não vai sobrar nada pra você. Nem nome, nem casa, nem dignidade. Você vai continuar sendo uma vergonha para nossa família. — Essa aí é uma puta que traiu o marido na cara de todo mundo — Sua voz estava alta o suficiente para todo mundo ouvir. — E agora vem pra uma festa como essa, se fazendo de vítima, só pra tentar pescar outro homem ingênuo que caia na lábia dela. Meus olhos ardiam, mas ela não parou. Virou-se para o desconhecido ao meu lado e completou: — Cuidado com quem você defende, porque essa mulher não vale nem o que o gato enterra. Então lançou-me um olhar de ódio e foi embora, puxando consigo seu capanga como uma criança mimada que perde o brinquedo. Meu coração estava acelerado, minhas mãos ainda tremiam e, por um segundo, achei que desabaria.— Você está bem? Cristina? — perguntou, a voz grave, que de alguma forma também era reconfortante.
Assenti, mas meus olhos ardiam.
— Vem, vamos tomar uma bebida e você me conta o que estava acontecendo aqui. Aceitei. Não porque eu quisesse afogar as mágoas no álcool, embora precisasse. Mas também precisava de alguém que não me olhasse como a culpada da noite. Sentamos em um canto mais reservado do bar. O desconhecido pediu duas doses de uísque sem sequer me perguntar. “Homem de atitude”, pensei, e confesso que isso me arrancou um meio sorriso. Quando o copo encostou nos meus lábios, desabei. Contei tudo. Sobre Heitor, sobre Beatriz, sobre como fui humilhada em público sem chance de defesa. Ele me ouviu em silêncio, com os olhos fixos em mim, como se eu fosse a única pessoa no bar. E, quando terminei, ele soltou as palavras: — É por isso que eu não acredito no amor. A frase me pegou de surpresa. Ri de nervoso, mas acabei concordando. — Depois de tudo isso, nem eu. E se um dia acreditar de novo, me internem. Eu, Cristina Santiago, casar de novo? Nunca. Ele ergueu o copo, fez um brinde tocando meu copo com o seu. — Ao “nunca mais”. — Nunca mais. A sensação de injustiça latejava em mim. Fui acusada de trair sem nunca ter traído. Expulsa da minha própria vida sem culpa. “Quer saber?”, pensei. Talvez estivesse na hora de ser a culpada de verdade. Talvez fosse hora de dar ao Heitor exatamente o que ele me acusou de fazer. Uma traição, mas de verdade, deliciosa e sem arrependimento. Sim. Eu deveria transar com outro homem antes de assinar o divórcio. Olhei para o desconhecido que ainda não me dissera seu nome. Ele não era um homem qualquer. Era intensidade pura, misterioso e arrebatadoramente bonito. O homem na minha frente parecia a descrição viva do meu tipo: Alto, cabelo preto, olhos castanhos, musculoso, rosto perfeito, barba aparada e um sorriso capaz de molhar a calcinha de qualquer mulher. Incluindo eu. E, naquele instante, ele parecia ser a tempestade que eu precisava para varrer os destroços da minha vida. — Quer ir para um lugar mais reservado? — Perguntei antes que a coragem se esvaisse. Ele me olhou de cima a baixo e deu um meio sorriso. — Eu estava prestes a perguntar a mesma coisa. Deixei que ele pagasse a conta e me despedi de Rosália, que entendeu sem precisar de muitas palavras e apoiou completamente. [...] Ele me trouxe ao hotel mais próximo e para a minha surpresa escolheu a suíte presidencial. Havia lustres de cristal refletindo luzes suaves, uma cama enorme com lençóis brancos, uma janela panorâmica que mostrava a cidade iluminada, esperando a virada do ano. E, claro, o champanhe já no balde de gelo. Eu deveria estar nervosa, mas não estava. Sentia adrenalina e liberdade. Pela primeira vez em três anos, eu ia escolher por mim, sem pensar nas consequências. Ele me puxou pela cintura assim que fechou a porta. Seu olhar não pediu permissão. O beijo veio intenso, quente, como se queimasse todos os resquícios da dor que eu carregava. Minhas mãos deslizaram pelo peito dele, sentindo os músculos firmes sob a camisa, enquanto sua boca explorava a minha com urgência e doçura ao mesmo tempo. Ele se afastou apenas para olhar nos meus olhos, e aquilo me deixou ainda mais exposta. Eu não queria falar, não queria pensar, só queria sentir. E, felizmente, ele parecia entender isso. De repente, aproximou-se devagar, tocando meu rosto com cuidado e percebi que ele notou o machucado por baixo da maquiagem. Ele se curvou e seus lábios pousaram suavemente sobre o ferimento no canto da minha boca, onde Heitor havia me atingido. Deixando um beijo breve e delicado no local. O calor que senti se espalhou por todo o corpo, misturando dor, alívio e desejo. Ele beijou meu pescoço devagar. Seus lábios deixavam rastros quentes na minha pele, e quando alcançou minha clavícula, mordi os lábios para não gemer alto demais. Suas mãos deslizaram pelas minhas costas, até me colarem ainda mais contra ele. De repente, me pegou no colo com uma facilidade desconcertante e me deitou na cama. Olhou-me com desejo e sorriu de canto. Aquele sorriso foi mais provocante do que qualquer palavra ousada poderia ser. Eu definitivamente fui hipnotizada por aquele sorriso. Se ele não fosse dono daquele sorriso, talvez eu não estivesse aqui agora. Suas mãos começaram a explorar cada parte do meu corpo, por cima do vestido, como se mapeassem o território antes de conquistá-lo. Eu arqueei as costas, desejando mais. Ele entendeu o recado rapidamente. Suas mãos fortes desceram pelas minhas coxas, pressionando e provocando arrepios que subiam direto para meu ventre. Ele beijava, mordia e lambia cada curva do meu corpo. Quando sua boca desceu pelo meu colo, tive certeza de que estava perdida. Seus dedos se infiltraram em mim com maestria, explorando-me de um jeito que me fez perder o fôlego. Não havia pressa nas suas carícias e isso me excitava ainda mais. Fechei os olhos e, por um momento, esqueci quem eu era, onde estava, o que havia acontecido. Só existia ele e o calor que incendiava cada fibra do meu corpo. Os fogos começaram a estourar lá fora, refletindo luzes coloridas pela janela imensa. Ele ergueu meu rosto com a mão e me fez olhar para a explosão de cores enquanto seus dedos me faziam gemer baixinho. Era como se dissesse, sem palavras: “Veja, o mundo celebra com você”. Meu corpo tremia, e cada movimento dele arrancava de mim suspiros que eu nunca pensei ser capaz de emitir. Quando pensei que não podia mais aguentar, ele me puxou para si, colando nossos corpos, e então me penetrou devagar, profundo e firme. A sensação foi avassaladora. Os fogos do lado de fora pareciam sincronizados com os do lado de dentro. Cada estalo no céu acompanhava o estalo no meu coração. Nos movíamos em um ritmo perfeito, entrelaçados, como se o destino tivesse planejado aquela noite para apagar todos os traumas e abrir espaço para uma nova versão de mim. Sua boca explorava a minha, sua respiração ofegante se misturava à minha, e eu não queria que acabasse nunca. Quando finalmente nos deixamos levar pelo clímax, foi como uma explosão dupla: lá fora, no céu iluminado; e dentro de mim, onde tudo se acendeu de uma vez. Éramos pura euforia, rimos baixinho, ainda ofegantes. Ele passou a mão pelo meu cabelo e me beijou mais uma vez. Eu estava nos braços de um homem que não acreditava no amor e estava feliz por isso. Ele me deu tudo que eu precisava e me fez sentir viva novamente. Heitor foi um atraso de vida e agora eu sabia que havia homens por aí capazes de me fazer alcançar os “fogos de artifício” que ele nunca conseguiu. Não há mais nada para lamentar. Eu estou recomeçando. Um novo ano. Uma nova vida.