CRISTINA SANTIAGO
O silêncio dentro do carro de Rosália era radicalmente diferente do silêncio na mansão.
Encostei a cabeça no vidro, observando a paisagem mudar. Os muros altos e as cercas elétricas do bairro nobre ficaram para trás, dando lugar à selva de pedra e viva da cidade real. Eu vi pessoas andando nas calçadas, ônibus lotados, vida acontecendo.
Minha mão repousava sobre minha barriga, um gesto que se tornara automático. Meu filho.
— Você lembrou de tudo, não é?
A voz de Rosália veio direta e sem rodeios. Ela não tirou os olhos da estrada, suas mãos estavam firmes no volante, mas senti a tensão em seus ombros.
Eu não me virei para olhá-la. Continuei fitando os prédios lá fora. Não havia sentido em mentir para ela. Rosália me conhecia antes de Ethan, ela lia meus silêncios melhor do que ninguém.
— Sim — respondi, a palavra saindo num suspiro exausto.
— Quando?
— Recentemente. — Fechei os olhos, com a lembrança do pesadelo voltando. — Foi como se uma represa tivesse estourado.