CRISTINA SANTIAGO
No dia seguinte, mesmo depois de dormir um pouco, ainda sentia um cansaço profundo. Assimilei meus sentimentos e percebi que a culpa que eu sentia era estranha. Não era culpa por sua morte, mas culpa por me sentir aliviada. Aliviada por ele nunca mais poder me machucar.
Rosália acordou com o cheiro do café que eu forcei meu estômago a entender que precisava preparar.
— Você está de pé — ela constatou, com a voz rouca de sono. — Você dormiu?
— Um pouco. — A verdade é que passei a maior parte da noite olhando para a janela, para o sedan preto estacionado do outro lado da rua.
Passei-lhe uma xícara. Ela a segurou com as duas mãos.
— Então, o que vamos fazer hoje?
Respirei fundo, olhando para a minha xícara.
— O funeral dele é hoje.
— Você sabe que isso pode causar problemas, não é? A família dele te odeia. A mãe dele, aquela... aquela bruxa, ela vai te comer viva.
— Eu sei. — Minha voz era baixa. — E eu não quero ir. Cada parte de mim grita para ficar aqui, trancar a p