Logan narrando
Acordo cedo, como de costume. Não preciso de despertador. O corpo já está treinado para despertar antes do sol nascer. Tomo um banho rápido, água gelada para manter a mente desperta. Barba feita, cabelo alinhado. Escolho o terno escuro, camisa branca, gravata discreta. Minimalismo sempre foi meu padrão. Não gasto tempo com excessos. Na cozinha, preparo meu próprio café. Preto, forte, sem açúcar. Na cafeteira é claro. Enquanto bebo, reviso os relatórios que recebi no celular durante a madrugada. Minha equipe trabalha em tempo integral, mas eu faço questão de ser o primeiro a analisar tudo. Só depois sigo para o carro que já me espera na garagem. O motorista não fala. Respeita meu silêncio. No trajeto, observo a cidade despertando. Pessoas correndo para o trabalho, buzinas, pressa. A maioria segue um roteiro repetitivo sem nunca sair do lugar. Eu não. Para chegar onde estou, precisei disciplina, frieza e sacrifício. Chegamos à Moretto Corp. O prédio reflete o céu da manhã. Alto, imponente. Exatamente como deve ser. Assim que desço, os seguranças me cumprimentam com um aceno respeitoso. Entro pela porta principal. O ambiente muda quando piso no saguão. O som de conversas se reduz, olhares discretos acompanham meus passos. Estou acostumado. Minha presença exige respeito. Caminho até a recepção. Vejo funcionários passando apressados, cada um em sua função. É nesse momento que meus olhos se prendem a algo diferente. Ela. Está em pé, próxima ao balcão, com um crachá recém-preso na camisa. Postura tímida, mas firme. Uma calça social simples, camisa clara e um coque baixo. Nada chamativo, mas há algo nela que prende minha atenção. A naturalidade, talvez. Ou o contraste entre sua simplicidade e o ambiente luxuoso ao redor. Ela parece nervosa. As mãos seguram a bolsa com força. A recepcionista fala algo, e ela responde com um sorriso contido. É novo o rosto. Não passa despercebido. Por um segundo, mantenho o olhar. Avalio como faço com tudo. Não é apenas estética. É presença. Algo nela transmite determinação, mesmo que escondida pelo nervosismo. Ela percebe que estou olhando. Nossos olhares se cruzam. Vejo o susto rápido, o rubor imediato nas bochechas. Não desvio de imediato. Seguro o momento, deixo claro que vi. Depois, ajeito a gravata com calma e sigo meu caminho. Não digo nada. Não costumo me demorar em distrações. Mas a imagem dela permanece enquanto entro no elevador. A porta se fecha e meu reflexo me encara. Sério como sempre, expressão impenetrável. Mas ainda penso nela. Sigo até meu andar, onde a rotina me espera. Reuniões, números, contratos, decisões que movem a empresa e afetam centenas de pessoas. Para todos, sou apenas o CEO. A figura firme e respeitada que não demonstra hesitação. Mas hoje, pela primeira vez em muito tempo, algo simples quebrou a monotonia da minha manhã. E eu guardo esse detalhe comigo. Quando voltei ao meu escritório, a primeira coisa que fiz foi ligar para o RH. Logan: Quero que o desempenho da nova contratada seja lançado no sistema imediatamente. Quero acompanhar cada atividade dela. Assistente do RH: Sim, senhor. Podemos organizar relatórios detalhados de tarefas e produtividade. Logan: Perfeito. Quero que tudo seja registrado, minuto a minuto. Se houver algo relevante, me informem imediatamente. Desliguei e respirei fundo. Isso não era curiosidade comum. Era estratégia. Identificar talento, mesmo nos primeiros dias, é essencial. Uma pessoa que desperta atenção no primeiro contato merece monitoramento. Não sou impulsivo. Cada passo é calculado. Depois, organizei minha agenda. Reuniões com investidores, decisões sobre contratos, revisão de relatórios financeiros. Cada minuto do meu dia é cronometrado. Minha assistente entrou com o primeiro pacote de documentos. Assistente: Senhor, revisão de contratos da unidade de tecnologia. A reunião começa em 30 minutos. Logan: Certo. Coloque meu cronograma atualizado à frente. Assistente: Sim, senhor. A manhã passou rápido. Participei de três reuniões seguidas com o conselho. Cada decisão precisa ser precisa, cada palavra medida. Todos me observam com atenção. Sou conhecido pela objetividade. Não tolero dispersão nem desculpas. No intervalo entre reuniões, revisitei o sistema da empresa. Observei os registros de Sophia. A cada tarefa marcada como concluída, eu analisava o tempo gasto, a eficiência, a atenção aos detalhes. Não há como ignorar dados objetivos. Mesmo iniciantes, alguns sinais indicam potencial. Ela demonstra organização, iniciativa e atenção. Anotações dela no sistema mostram que está tentando antecipar necessidades, mesmo sem experiência direta. O almoço foi rápido, tomado na minha sala, sem interrupções. Sempre prefiro assim. Comer e trabalhar ao mesmo tempo mantém o ritmo. Meu celular vibrou com notificações de e-mails urgentes. Respondi a cada um de forma concisa, sem margem para dúvida. À tarde, reuniões estratégicas com os departamentos de marketing e vendas. Exigi que Sophia estivesse presente durante a apresentação do projeto do setor dela. Não por capricho, mas porque quero avaliar presença, postura e compreensão. Durante a reunião, mantive-me sério e impassível. Observei cada reação, cada pergunta feita, cada gesto. Sophia manteve a postura. Não interrompeu, apenas tomou notas e respondeu de forma clara quando questionada. Pequenos detalhes, mas indicadores importantes. Após a reunião, assinei contratos, avaliei relatórios de desempenho de outras áreas e organizei minhas prioridades para a semana seguinte. Às 16h30, recebi a atualização do RH com o resumo do dia de Sophia. Cada tarefa registrada, cada interação com colegas. Confirmei mentalmente minhas observações. O desempenho inicial confirma minhas expectativas: foco, disciplina e atenção aos detalhes. Não será alguém comum na equipe. O final da tarde foi dedicado a reuniões externas via videoconferência com investidores internacionais. Cada decisão tomada impacta centenas de funcionários e milhões de recursos. Minimalismo é essencial. Palavras claras, ordens precisas, relatórios exatos. Nada fora do lugar. Antes de encerrar, revisitei novamente o sistema, conferi mensagens de colaboradores e organizei a agenda do dia seguinte. Eu gosto de cuidar de tudo pessoalmente. E mesmo no final do dia, enquanto o prédio se aquieta, minha mente permanece ativa. Avalio números, estratégias, talentos. Antes de desligar as luzes do escritório, respirei fundo. Mais um dia cumprido. Objetivos claros, metas atingidas, disciplina mantida. Amanhã será mais intenso, mas estou pronto. Sempre estive pronto.