Sophia narrando

Acordei antes do despertador tocar. Passei alguns minutos deitada, olhando o teto, tentando acalmar o coração que batia rápido demais. Era o dia que eu tanto esperava. Levantei devagar, respirei fundo e fui até o banheiro, escovei os dentes e tomei um banho para despertar completamente e fui até o guarda-roupa. Tirei a única calça social que eu tinha, um pouco gasta, mas bem passada, e a camisa branca de botão que parecia me deixar mais séria. Vesti com cuidado, como se aquelas peças fossem uma espécie de armadura para o que estava por vir.

Prendi o cabelo em um coque baixo, simples, mas arrumado. Não sabia fazer penteados elaborados, e, de certa forma, preferia assim. Abri a gavetinha de maquiagem e passei só um pó leve para tirar o brilho do rosto, um pouco de rímel para destacar os olhos e um batom suave, quase cor de boca. Nada chamativo, apenas o suficiente para parecer apresentável.

Peguei o frasco de perfume que minha tia tinha me dado no último aniversário e borrifei nos pulsos e no pescoço. Era delicado, fresco, e só o cheiro já me dava uma sensação de confiança. Calcei meu único par de salto, preto, de salto médio. Não era novo, mas estava bem cuidado, e me dava uma postura diferente, mais adulta. Peguei a bolsa, conferi se estava tudo ali — documentos, caneta, um caderno pequeno — e respirei fundo diante do espelho.

Sophia: Você consegue.

Saí do quarto e encontrei minha tia já pronta, com a bolsa dela pendurada no ombro. Ela estava séria, como sempre antes de viajar para mais uma semana de trabalho.

Tia: Minha menina, olha só você. Parece até outra. Está linda.

Sorri, sem jeito, ajeitando a manga da camisa.

Sophia: É o que deu para fazer, tia.

Tia: Tá perfeita. Vai dar tudo certo.

Saímos juntas e o ar fresco da manhã me fez sentir que o mundo inteiro estava recomeçando comigo. Caminhamos até a parada em silêncio, cada uma mergulhada em seus próprios pensamentos. Quando chegamos, ela me olhou com aquele olhar que misturava carinho e orgulho.

Tia: Bom trabalho, Sophia. Eu volto no sábado, mas quero notícias antes.

Sophia: Pode deixar. Eu vou te mandar mensagem. Boa viagem, tia.

Nos abraçamos ali mesmo, e logo o ônibus dela chegou. Fiquei observando até que desaparecesse na esquina. Meu peito apertou, como se de repente eu estivesse sozinha no mundo. Mas ao mesmo tempo, havia algo queimando dentro de mim, uma coragem que eu nem sabia que tinha.

Meu ônibus não demorou a chegar. Subi e percebi que estava lotado. Fiquei em pé, segurando firme no ferro, tentando me equilibrar com o balanço. As pessoas entravam e saíam em silêncio, cada uma perdida em seus próprios pensamentos. Eu só conseguia pensar no prédio que me esperava.

Quando finalmente desci na minha parada, senti as pernas tremerem. A rua estava movimentada, carros passando de um lado para o outro, pessoas apressadas indo para seus trabalhos. Atravessei até o outro lado e, quando levantei o olhar, ele estava ali. O prédio.

Alto, imponente, com paredes de vidro que refletiam o céu azul da manhã. Tão grande que parecia tocar as nuvens. Meu coração disparou ainda mais. Aquele seria meu endereço de todos os dias. Aquele era o começo do meu sonho.

Fiquei parada por alguns segundos na calçada, respirando fundo, tentando acreditar que aquilo era real. Eu, Sophia, que tantas vezes achei que nunca teria uma chance, agora estava ali, diante da porta que poderia mudar meu destino.

Fechei os olhos, segurei a alça da bolsa com força e sussurrei baixinho para mim mesma.

Sophia: Agora é a sua vez.

E com um passo firme, atravessei a entrada do prédio, disposta a viver tudo o que aquele novo capítulo tinha para me oferecer.

Assim que cruzei as portas de vidro, fui recebida pelo ar fresco do ar-condicionado e pelo brilho impecável do piso de mármore. Cada detalhe gritava elegância e profissionalismo. O saguão era enorme, pessoas bem-vestidas passavam apressadas, falando ao celular ou segurando pastas. Meu coração quase saiu pela boca.

Aproximei-me da recepção, tentando manter a postura. A moça atrás do balcão sorriu com gentileza, o que me trouxe um alívio imediato.

Recepcionista: Bom dia, você deve ser a nova contratada, certo?

Sophia: Sim, sou a Sophia Torres, Primeiro dia.

Ela digitou algo no computador e me entregou um crachá com meu nome e foto.

Recepcionista: Seja bem-vinda à Moretto Corp. Pode seguir até o oitavo andar, o RH já está aguardando você. Elevadores à sua direita. Quarto andar.

Agradeci, segurando o crachá como se fosse um tesouro. No elevador, as portas de aço refletiam minha imagem. Ajustei o coque, respirei fundo e repeti para mim mesma que eu tinha capacidade de estar ali.

Quando as portas se abriram no oitavo andar, duas mulheres sorridentes me receberam.

Moça do RH 1: Você deve ser a Sophia! Estávamos esperando.

Moça do RH 2: Bem-vinda à família Moretto. Vai dar tudo certo, pode relaxar.

Elas me conduziram até uma sala aconchegante, onde explicaram pacientemente os procedimentos da empresa, horários, regras e benefícios. Fiquei surpresa com a maneira calorosa como me trataram. Nada de olhares de superioridade, apenas simpatia e incentivo.

Moça do RH 1: Aqui nós valorizamos muito o trabalho em equipe. Se precisar de ajuda, pode procurar qualquer um.

Sophia: Obrigada. Eu confesso que estou nervosa, mas vou dar o meu melhor.

Moça do RH 2: Nervosismo é normal no primeiro dia. Você vai se sair bem.

Depois da orientação, me acompanharam até a área onde eu iria trabalhar. O espaço era moderno, cheio de mesas organizadas, computadores ligados e pessoas focadas. Cada estação de trabalho parecia um pequeno universo particular. A moça do RH me apresentou a alguns colegas, e todos me cumprimentaram de forma educada, alguns até sorrindo de verdade.

Sentei-me na mesa que seria a minha. O computador já estava pronto para uso, e uma pequena planta decorava o canto, como se dissesse que aquele lugar já me pertencia.

Enquanto ligava o monitor, senti uma mistura de medo e entusiasmo. Era oficial. Eu fazia parte da Moretto Corp.

Sophia: Esse é só o começo… e eu vou provar que mereço estar aqui.

E com um suspiro profundo, comecei meu primeiro dia.