Capítulo 29 – O Vaso e a Desconfiança
O jardim interno era, para mim, um raro refúgio. Caminhei lentamente entre os canteiros, buscando um respiro, um intervalo das paredes pesadas e dos olhares que nunca se desviavam sem deixar julgamento. Ali, ao menos, havia silêncio — quebrado apenas pelo vento que arrastava folhas secas pelo chão de pedra e pelo ruído distante dos servos em alguma parte da fortaleza.
Foi quando ouvi.
Um som seco, rápido, o estilhaço de cerâmica rasgando o ar. Levantei os olhos apenas a tempo de ver a sombra de um vaso despencando da janela mais alta. O reflexo não seria suficiente. Meu corpo travou antes que pudesse reagir.
Um impacto me atingiu de lado. Fui lançada ao chão com brutalidade, o ar escapando dos meus pulmões. O vaso explodiu no gramado a centímetros de mim, espalhando cacos em todas as direções. Alguns ricochetearam pela pedra, outros fincaram-se no solo úmido.
Demorei alguns segundos para compreender que não era o vaso que pesava sobre mim, mas