A ligação veio exatamente vinte minutos depois que eu cheguei em casa. A voz gelada da secretária, agora um pouco mais familiar, me deu a notícia: "Parabéns, Senhorita Aurora. O Sr. Nicholas a selecionou. Você começa amanhã. O Patrick, nosso mordomo, a aguardará para o check-in e a apresentação das regras contratuais."
Eu gritei e abracei a Bia com tanta força que ela quase desmaiou. No meio da euforia, no entanto, havia uma ponta de medo. Eu estava vendendo minha vida por um ano.
O dia seguinte foi um borrão de despedidas e malas. A despedida de minha mãe foi emotiva — ela estava aliviada, mas triste por me ver morar fora, ainda que em uma mansão.
Quando Patrick me conduziu de volta à Mansão Thorne, agora como funcionária, o lugar parecia ainda mais frio. As paredes de vidro pareciam me julgar. Ele me levou para uma ala de funcionários que eu nem sabia existir. Meu quarto era impecável e funcional, mas parecia um quarto de hotel de luxo impessoal, não um lar.
"Aqui estão seus uniformes, Senhorita Aurora," Patrick disse, apontando para um cabide.
Olhei para as roupas: vestidos discretos, em tons de azul marinho e cinza, que pareciam mais saias e blusas combinando do que uniformes de fato. Eles eram feitos de um tecido excelente, mas instantaneamente me senti reduzida ao meu papel. Eu não era mais a Aurora da faculdade, mas a Babá Thorne.
Patrick pigarreou, segurando um tablet com a lista de regras. Ele as lia com a mesma precisão de um robô.
"Seu principal dever é a Senhorita Lili. A discrição é fundamental. E aqui estão os pontos de extrema importância," ele continuou, deslizando o dedo na tela.
"Primeiro, sua folga será apenas no sábado à noite. Você deve estar de volta à residência no domingo, antes das oito da noite. O tempo da Lili é prioridade."
Fiz que sim com a cabeça. Uma noite. Eu poderia sobreviver com uma noite livre.
"Segundo, e isto é não negociável, qualquer tipo de relacionamento entre funcionários ou com o patrão é estritamente proibido e resultará em demissão imediata. A Mansão Thorne preza por um ambiente profissional e livre de distrações emocionais."
Essa regra me atingiu em cheio. Não que eu tivesse planos de me envolver, mas pensar em Nicholas, arrogante e lindo, e em como a atração que senti era proibida por contrato, adicionou um peso sinistro à situação. Sem distrações, ele havia dito. Ele estava se protegendo tanto quanto estava se protegendo contra os flertes.
"Terceiro, o uso do seu telefone pessoal deve ser limitado às suas horas de folga. Durante o dia, o telefone deve ficar em seu quarto e no modo silencioso. O Sr. Nicholas lhe fornecerá um celular de trabalho para contato de emergência e para que ele possa se comunicar com você, se necessário."
Ele estava basicamente me isolando do meu mundo exterior, a menos que ele quisesse entrar em contato. O controle dele era absoluto.
"E por último, a rotina de trabalho não é fixa. Você deve estar sempre pronta para organizar as malas e viajar a qualquer momento com o Sr. Nicholas e a Senhorita Lili para quaisquer de suas residências ou compromissos de negócios. Flexibilidade é obrigatória."
Assinei o contrato, sentindo que não estava apenas assinando um termo de emprego, mas sim a minha liberdade. O salário valia o preço, mas o preço era minha vida pessoal.
Quando Patrick finalmente saiu, deixando-me sozinha no quarto de paredes neutras, abracei um dos vestidos-uniforme. Eu estava presa, mas estava segura. Eu tinha dinheiro. Eu tinha um futuro para pagar.
No final daquela noite, enquanto eu tentava descompactar e me habituar à quietude opulenta, ouvi passos leves no corredor. Abri a porta e a vi: Lili. Ela parou, me encarando com aqueles olhos grandes e tristes, seu ursinho de pelúcia apertado. Ela não sorriu.
"Olá, Lili. Sou a Aurora," murmurei, agachando-me.
Ela não disse nada. Apenas me olhou por um longo momento, avaliando. Depois, ela se virou e correu de volta para o seu quarto.
Eu fechei minha porta e me deitei. Embaixo do telhado do bilionário de gelo, eu era apenas a babá, presa por regras e por um contrato que me proibia de sequer olhar demais para o meu lindo e arrogante patrão.