A cadeira de couro girou suavemente. Do alto de seu novo cubículo, Isabela tinha uma visão panorâmica do andar. O silêncio era interrompido apenas pelo clique dos teclados e o murmúrio baixo de conversas. Ali, no epicentro do império que havia destruído sua família, ela era uma engrenagem invisível, uma funcionária anônima. E era exatamente assim que ela queria que fosse. A Montenegro Capital era uma máquina perfeita, com cada peça trabalhando em sincronia, e ela estava ali para encontrar o grão de areia que a faria parar.
A tela de seu computador brilhou, exibindo sua primeira tarefa: uma auditoria de rotina no setor de Aquisições e Fusões. Um setor de alto valor, onde os grandes negócios da empresa eram fechados. Não era uma coincidência. Era sua chance. Se o segredo de Artur Montenegro envolvia lavagem de dinheiro, era ali que as trilhas estariam mais bem escondidas. Mas ela sabia que não seria fácil. A entrada na rede da empresa era protegida por diversas camadas de segurança, criadas para manter os segredos do CEO a salvo. Seu desafio não era apenas encontrar a verdade, mas fazê-lo sem levantar suspeitas. Isabela sentiu um olhar sobre ela e se virou. Uma mulher na casa dos quarenta, com um sorriso acolhedor, se aproximou. Era Joana, a gerente de RH. “Bem-vinda, Isabela. Como você está se adaptando?” ela perguntou, a voz suave. “Bem, obrigada. Estou ansiosa para começar,” Isabela respondeu, sua voz firme. Joana acenou com a cabeça e continuou. “O Sr. Montenegro tem um alto padrão para quem trabalha aqui. Ele não tolera falhas.” A menção a Lucas fez o sangue de Isabela gelar. “Eu entendo. Ele parece ser muito exigente.” “Ele é. Mas a pressão não vem apenas dele,” Joana sussurrou, abaixando a voz. “Nós temos um rival interno. Ricardo, o vice-presidente de finanças. Ele e Lucas estão sempre em conflito. Ele quer o lugar de Lucas, e se ele puder usá-lo ou qualquer um de seus erros para subir, ele o fará.” Isabela escondeu um sorriso. Um rival interno? Isso era um presente. Ela poderia usar essa rivalidade para ter acesso a informações privilegiadas. Joana se afastou, e Isabela se sentou, seu coração batendo mais forte. O jogo estava começando. Ela olhou para o monitor, pronta para começar a trabalhar. De repente, a tela piscou e uma nova janela se abriu, com uma mensagem simples: **"Preciso de você na minha sala. Imediatamente."** Era um e-mail de Lucas. Não tinha saudação, não tinha despedida. Apenas uma ordem fria e direta. Um arrepio correu por sua espinha. A adrenalina do confronto a dominou. Ela não estava preparada para ter que encará-lo tão cedo. A reunião com ele poderia estragar seu plano. Mas também poderia ser sua primeira chance de descobrir algo. O elevador a levou para o andar executivo. As portas se abriram, revelando uma recepção luxuosa e silenciosa. A secretária de Lucas, uma mulher de cabelo louro e olhos frios, mal olhou para ela. "Ele está esperando você," ela disse, apontando para a porta. Isabela engoliu em seco. Ela estava prestes a entrar na toca do leão. Preparou-se para se manter firme, para não deixar que ele a intimidasse. Lucas era seu inimigo, o símbolo de tudo o que ela odiava. Mas, no fundo, em algum lugar de sua alma, uma pequena chama de esperança permanecia. Uma faísca de um passado que ela havia enterrado. Aquele garoto de olhos gentis, seu melhor amigo, que havia sido apagado pelo homem de negócios frio à sua frente. Ela bateu na porta. Uma voz profunda respondeu, "Entre."