A noite caiu sobre a cidade como um véu pesado. A oficina de Isabela estava mergulhada em meia-luz, iluminada apenas por uma lâmpada pendurada no teto, que oscilava com o vento que entrava pela janela mal fechada. O espaço, antes um refúgio para ela, começava a se transformar em território de segredos, um ponto de encontro clandestino onde a verdade parecia querer vir à tona.
Lucas chegou pouco depois das dez, discretamente, como sempre. Estava cansado do dia exaustivo na Montenegro Capital, onde passara horas entre relatórios e reuniões que não diziam nada, apenas máscaras que escondiam a podridão por trás da empresa. O rosto dele carregava as marcas de noites mal dormidas e pensamentos pesados.
“Você demorou,” Isabela disse, sem erguer os olhos das anotações que espalhara sobre a bancada de ferro.
“Meu pai sempre disse que confiança é uma moeda cara. E hoje percebi o quanto isso é verdade. Há olhares demais sobre mim.” Lucas suspirou, retirando o paletó e jogando-o sobre uma cadeira