A porta de vidro pesada se fechou atrás de Isabela com um som sutil. A sala de Lucas Montenegro era uma declaração de poder e riqueza, mas de uma forma fria e calculada. Paredes de vidro se abriam para uma vista espetacular de São Paulo, mas Isabela via apenas a cidade que os Montenegro haviam roubado dela. A mesa de trabalho, feita de madeira escura e polida, era minimalista. Sobre ela, um laptop ultramoderno e pilhas de documentos perfeitamente organizados. Lucas estava de costas para ela, falando ao telefone, a voz firme. Ele parecia ser parte da própria mobília, uma peça de arte cara.
Ele desligou o telefone sem nem se virar, e por um instante, o silêncio preencheu a sala. "Sente-se," ele disse, a voz abafada. "Você tem três minutos para me explicar por que o relatório de contratação está com um erro."
Isabela apertou as mãos, a raiva fervendo por dentro. Ele a tratava como um mero número, um problema a ser resolvido. Ela se sentou, mantendo a postura ereta e a voz firme. "Senhor, o relatório está correto. O erro estava na base de dados de entrada."
Lucas girou a cadeira de uma vez. O movimento rápido a fez dar um pequeno sobressalto. Ele a olhou, a expressão cética, e uma faísca de algo familiar cruzou seu olhar. Ele parecia estar tentando se lembrar de algo, a expressão em seu rosto indicava uma memória distante.
"Isabela Figueiredo, Auditora Júnior," ele disse, lendo a ficha dela no tablet. Ele ergueu os olhos para ela. "Você não parece com nenhuma das estagiárias que contratei."
"Eu não sou estagiária. E minha experiência fala por si," ela respondeu.
Lucas a estudou. "Você tem um currículo impressionante. Mas as aparências podem enganar." Ele a desafiou, a voz mais baixa e rouca. "Me diga, Sra. Figueiredo, o que você acha que é mais importante em uma empresa como a minha? Inteligência ou lealdade?"
Isabela parou por um segundo, a pergunta a pegou desprevenida. Ele estava a testando. "Acho que lealdade sem inteligência é perigosa, e inteligência sem lealdade é inútil," ela respondeu, os olhos firmes nos dele. "Mas um líder de verdade sabe quando a inteligência se sobrepõe à lealdade."
Um sorriso lento se formou nos lábios de Lucas. Não era um sorriso de felicidade, mas de quem havia encontrado algo interessante. "Uma resposta honesta," ele disse, o olhar a penetrando. "Seu currículo não me diz nada sobre sua história. Por que você realmente quer trabalhar aqui?"
Isabela engoliu em seco. A pergunta atingiu o ponto mais sensível de sua alma. Ela se lembrou da promessa que fez à sua mãe. "Eu quero a oportunidade de crescer e construir uma carreira sólida em um lugar com o potencial da Montenegro Capital." A mentira era suave, e ela esperou que ele a engolisse.
Lucas não pareceu totalmente convencido. Ele a olhou por um momento, como se estivesse tentando desvendar um enigma. "Bem-vinda a bordo, Sra. Figueiredo," ele disse. "Seus três minutos acabaram."
Isabela se levantou, a respiração presa na garganta. Ele a havia dispensado sem qualquer explicação, sem qualquer informação útil. "Pode ir," ele disse, voltando-se para o monitor. "Não me decepcione."
Isabela saiu da sala, seu corpo tremendo de raiva e satisfação. Ela não tinha as informações que queria, mas tinha algo mais valioso: a atenção de Lucas Montenegro. Ele a notou. Ele a desafiou. E ela tinha a certeza de que ele a estaria observando.