A saudade é um fantasma silencioso, e hoje, ela decide sentar à mesa com Marta. Está no brilho úmido dos olhos dela, no jeito como os dedos tocam o volante da sua RAM preta, como se quisessem agarrar algo que ficou lá atrás, no tempo. Jonathan percebe antes mesmo que ela diga qualquer coisa. Um silêncio melancólico se instala entre os dois, e ele, mesmo sem entender, respeita. Mas não ignora.— Vou sair mais cedo hoje — ela diz suavemente, já pegando a bolsa. — Quero preparar um jantar especial. — Tudo bem. Mas... você está bem? — Jonathan pergunta, atento. — Estou, só estou com saudade. Só isso.Ele não acredita completamente, mas sorri e assente. Assim que ela fecha a porta atrás de si, ele pega o celular e digita rápido para Eduardo."Fique de olho nela, algo não está certo." — Jonathan.Marta dirige pelas ruas em silêncio, apenas o ronco do motor da RAM preenche o ar. Lá atrás, a uma distância segura, Eduardo acompanha. Sempre discreto, sempre alerta. Ele não está ali apenas c
O sol nasce tímido sobre o pátio principal do Grupo Schneider.A brisa fria da manhã serpenteia entre os galpões, arrastando consigo o cheiro de metal, óleo e promessas não ditas.O som das empilhadeiras ecoa como um tamborilar distante, compondo uma trilha sonora que parece... calma demais.Quase como se o próprio mundo prendesse a respiração.Na sala da presidência, Jonathan assina relatórios enquanto observa Marta, sentada no sofá, folheando seu caderno de anotações.De tempos em tempos, ele ergue os olhos, como se precisasse vê-la para acreditar que ela está ali, viva, respirando e sorrindo para ele.— Vai ficar me vigiando o dia inteiro, Senhor Schneider? — Marta provoca, sem desviar o olhar das folhas.Jonathan arqueia uma sobrancelha, deixando um sorriso brincar no canto da boca.— Tentador... mas não. — responde, num tom de falsa resignação. — Hoje você tem reunião com Islanne no RH às dez. Eu vou ficar preso com uma pilha de contratos tão chatos que até as paredes vão querer
O Grupo Schneider acorda como uma fera adormecida: um organismo gigante, pulsando em silêncio entre aço e concreto.No ar da manhã, há uma eletricidade sutil, uma vibração que passa despercebida pelos distraídos... mas não por Dante Bittencourt.Ele sente.Ele sempre sente.Dante é um fantasma em trajes civis — discreto, mas impossível de ignorar para quem tem sensibilidade suficiente.Sua presença densa, calculada, é como a sombra que se projeta antes da tempestade.Onde Islanne Schneider vai, ele vai.Silencioso. Atento. Impecavelmente preciso.O novo guarda-costas da vice-presidente do Grupo Schneider é uma fortaleza de músculos, disciplina e olhar frio. Não fala mais do que o necessário. E observa, sempre observa.Para Islanne, isso é o maior combustível.A primeira investida do dia acontece em um corredor lateral do prédio administrativo. Ela sente sua presença antes mesmo de vê-lo, é como uma mudança sutil na temperatura do ar.— Você já pensou em usar sinos no pescoço? — dispar
A noite cai como um véu espesso sobre a mansão Schneider, silenciosa, imponente. Mas o fogo que arde lá dentro está longe de ser discreto.Ravi chega sem avisar.Não precisa.Islanne o sente antes mesmo de ouvir o ronco grave do motor. Ela já está com uma taça de vinho na mão, descalça, corpo envolto por um robe de seda preto que parece costurado na pele. Abre a porta antes que ele toque a campainha, os olhos incendiados.— Achei que não vinha. — a voz dela é baixa, quase um sussurro, mas carrega uma fome antiga.Ele apenas a agarra pela cintura, atravessa a porta com ela nos braços e a fecha com um chute seco. Em um estalo, a taça de vinho despenca no chão, estilhaçando-se num grito de cristal que ninguém ouve. O robe escorrega dos ombros dela como se o próprio tecido implorasse para tocá-la mais.Os lábios dele tomam os dela com brutalidade, um choque elétrico, um roubo e uma entrega. Islanne geme contra sua boca, agarrando-se ao pescoço dele como se fosse se afogar.Ravi a ergue do
O silêncio da madrugada se espalha pela mansão Schneider como uma névoa espessa e densa, abafando cada som, cada respiração. O mundo inteiro parece suspenso no tempo.No andar de cima, a porta do quarto entreaberta revela a visão que faz o sangue de Ravi ferver de novo.Islanne dorme de lado, nua sob lençóis amarrotados. Os cabelos se espalham pelo travesseiro como uma cascata sombria. Os lábios entreabertos, ainda inchados dos beijos desesperados que ele lhe deu. E aquele sorriso leve, saciado, como se tivesse sido conquistada... e perdida ao mesmo tempo.Ravi encosta na porta, cruzando os braços, absorvendo cada detalhe. A respiração dela, serena, quase inocente, contrasta brutalmente com a lembrança vívida dela se contorcendo sob ele, gemendo seu nome como uma súplica e uma maldição.Ele sorri de canto. Lento. Perigoso.Não há pressa.Islanne é veneno doce que vicia, corrompe, destrói, e ele quer cada gota desse tormento. Quer afundar até o pescoço na perdição que ela oferece.O so
O relógio digital pisca 18h12 quando Marta se despede de Monica com um sorriso suave nos lábios, ainda imersa no conforto de um dia produtivo. Há uma luz serena em seu olhar, a promessa de uma noite especial vibrando em seu peito.— Vou para casa preparar um jantar incrível pro Jonathan. — diz ela, abraçando a bolsa contra o corpo. — Hoje ele merece um carinho dobrado.Marta atravessa o estacionamento, onde as sombras já engolem os carros estacionados em uma penumbra quase sólida. O ar fresco da noite arrepia sua pele exposta e ela aperta a chave entre os dedos, um gesto instintivo de autoproteção.Mas a noite, essa velha traidora, fecha-se em volta dela com dentes invisíveis.Um estalo seco.Um puxão brutal.Um braço forte e agressivo se enrosca em volta de sua cintura, e o frio implacável do cano de uma arma se encaixa entre as suas costelas como uma sentença de morte.— Entra no carro. Agora, sua vadiia. — sibila o sequestrador contra o seu ouvido, a respiração dele quente e apodr
O som dos gritos ecoa pelo estacionamento como um trovão que rompe a calmaria traiçoeira da noite. Tudo acontece rápido, como o estouro de uma tempestade anunciada.— AGORA! — urra Eduardo, a voz rasgando o ar, carregada de pura fúria.Ele se lança como um míssil, rasgando a distância entre ele e o agressor. Agarra o braço do sequestrador com brutalidade, a arma voa de suas mãos, girando no ar como um pássaro ferido. Marta é empurrada brutalmente para longe, seu corpo rolando pelo chão áspero, um grito de dor escapando de sua garganta.Sem hesitar, Eduardo desfere um soco tão violento que o som do impacto reverbera, deixando o homem cambaleante. Antes que o agressor recupere o equilíbrio, Dante surge, preciso, letal. Um golpe seco atinge o pescoço. Outro, mais calculado, estilhaça o ombro. O sequestrador desaba, inconsciente, como uma marionete de cordas cortadas.No exato momento, Jonathan aparece. Um furacão de desespero e raiva atravessando o estacionamento.— MARTAAA!Seus olhos c
O corredor sombrio que leva até a sala de interrogatório parece se estender infinitamente. Cada passo de Jonathan é um anúncio de morte, um prenúncio de agonia. A porta de aço se fecha atrás dele com um estrondo ensurdecedor, isolando o local do mundo exterior. Lá dentro, o ar é pesado, úmido, e o cheiro metálico de sangue fresco domina tudo, misturado ao odor agridoce do medo.Na escuridão quase total, o homem amarrado à cadeira de metal luta contra as próprias amarras, inútil como um animal à beira do abate. O suor escorre em rios pela testa suja, misturando-se ao sangue que desce da testa cortada, pingando no chão de concreto. Seus olhos, arregalados de puro terror, vasculham as sombras em busca de misericórdia... mas encontram apenas o silêncio gélido da morte anunciada.De pé à frente dele, Eduardo é a personificação da ameaça silenciosa, braços cruzados, a expressão impassível como a de um carrasco antes da execução. Ao seu lado, Ravi ajusta lentamente as luvas pretas, como um c