O celular de Miguel vibra sobre o balcão da varanda, interrompendo o ruído das maritacas que brincam entre os galhos do pé de goiaba. Ele enxuga as mãos na calça jeans e atende.
— Alô?
A voz do pai do outro lado vem embargada, trêmula.
— Miguel... é a Marta. O bebê... um dos gêmeos... sumiu.
Silêncio.
O chão parece desaparecer sob os pés de Miguel. Ele segura o telefone com força, os nós dos dedos esbranquiçados, o coração martelando no peito.
— Como assim, pai? Sumiu? — a pergunta sai num sussurro, incrédulo.
— Ela foi atropelada, filho. Está na UTI. Os bebês nasceram. A menina tá viva... mas... o menino...
Miguel não responde. A ligação termina, e ele simplesmente solta o celular, que cai no chão de terra batida do galpão. As pernas fraquejam.
Ele cai de joelhos no meio dos sacos de ração, com os olhos marejados e o peito arfando.
— Marta... não, não você... — murmura, a voz falhando.
As mãos grandes apertam a serragem fria. O galpão, antes silencioso, parece ecoar sua dor. As lágri