A madrugada cai densa sobre a mansão Schneider como um véu de chumbo. O céu sem estrelas reflete o estado de alerta permanente que paira sobre a propriedade. Há algo de pesado no ar, não é apenas escuridão, é tensão, é um silêncio que não traz descanso. A mansão dorme, mas Jonathan não.Ele caminha pelos corredores silenciosos com passos firmes, o olhar afiado como lâmina. Desde a tentativa de sequestro, algo nele mudou. Dormir profundamente virou um luxo perigoso. Confiar, uma ousadia que ele não pode mais se permitir.— Verifica de novo a área dos fundos e os sensores da entrada lateral — ordena, ao chefe da segurança, sem perder o tom controlado. — Qualquer movimentação fora do padrão, eu quero saber. Imediatamente. Sem filtro. Sem hesitação.— Sim, senhor. A ronda foi reforçada. Os homens estão com rádios novos, visão térmica e drones de patrulha no perímetro externo. A cerca perimetral está com nova carga elétrica, dentro do nível permitido por lei.Jonathan assente, mas seus olh
O dia começa como todos os últimos, com Jonathan acordando antes que a luz toque o rosto de Marta. Ele observa por alguns minutos a tranquilidade adormecida dela, o vai e vem ritmado da respiração, o traço suave da boca entreaberta. É ali que ele encontra refúgio e tormento ao mesmo tempo. O amor o embriaga, mas a lembrança do perigo o acorda antes do amanhecer.O café da manhã chega pontualmente às oito, entregue por uma funcionária de confiança. Jonathan cuida de tudo pessoalmente, da escolha do cardápio até o teste dos sensores da cozinha antes de autorizar qualquer aproximação. Quando Marta se senta à mesa, ele já está lá, esperando com a serenidade treinada de quem esconde o caos por dentro.— Eu te disse que podia preparar alguma coisa — ela comenta, com uma ponta de frustração carinhosa. Está usando um robe claro, os cabelos meio soltos, o curativo sob a roupa mal disfarçando o incômodo.Jonathan sorri, mas não cede.— E eu te disse que não quero você de pé por mais de dez minu
Um dos sensores pisca duas vezes no painel. E por um segundo queima dentro de Jonathan a certeza fria, alguém está tentando entrar.Mas o alarme não dispara. Nenhum aviso sonoro, nenhuma movimentação externa. Apenas uma piscada solitária, quase como um erro. Quase.— Revisem isso agora. — Jonathan diz com a voz baixa, mas com aquela firmeza que atravessa a espinha. — Quero o histórico do sensor da ala leste dos últimos sete dias. Se tiver qualquer falha, qualquer interferência, troquem tudo. Hoje.O chefe de segurança, um homem alto, de rosto vincado e olhos atentos assente imediatamente. Ele não questiona ordens, não quando vêm daquele tom.— Senhor, pode ter sido apenas uma queda de energia mínima no sistema secundário. Sem falhas no registro de movimento.— Não existe apenas. Não com a minha mulher lá dentro.Jonathan observa os monitores com olhos de águia. Um a um. Nenhuma imagem escapa. A câmera térmica mostra apenas o calor comum da vegetação ao redor. Ainda assim, ele sente. A
A noite começa como uma pintura inacabada, com pinceladas suaves de luz atravessando as cortinas da cozinha. Lá dentro, Marta e Jonathan estão envolvidos em algo que vai além da culinária. Estão brincando com o tempo, desafiando a pressa do mundo moderno com gestos ternos, quase infantis, mas cheios de significado. O cheiro do brigadeiro no ar parece selar um pacto invisível entre os dois, um pacto feito de açúcar, calor e olhares cúmplices.— Tudo que você faz é arte, Marta. Até bagunçar a cozinha — diz Jonathan, aproximando-se pelas costas, com os braços firmes envolvendo a cintura dela. — Mas... eu ainda acho que o meu ficou melhor.Ela se vira para ele com aquele ar de provocação que domina tão bem. Os olhos cintilam em desafio. Com um gesto rápido, ela passa um pouco do brigadeiro no queixo dele.— Então prova, Sr. Schneider. Vamos ver se sua opinião continua a mesma.Jonathan segura os dedos dela com uma delicadeza absurda, como se fossem joias raras, e lambe o brigadeiro com le
A madrugada avança como uma brisa morna, e dentro da mansão Schneider o tempo parece suspenso. A chuva fina tamborila nos vidros das janelas, compondo uma melodia suave que ecoa como um sussurro de tranquilidade. Jonathan caminha em passos lentos pela sala silenciosa, ainda com a mente alerta. O som de cada gotejar lá fora é como um lembrete: o mundo não parou, mas aqui dentro... ele escolheu pausar. Apenas por hoje.Ele sobe as escadas devagar, guiado pela luz tímida dos abajures, e ao entrar no quarto, encontra Marta sentada na cama, de moletom largo e cabelo preso de qualquer jeito. Ela segura um travesseiro no colo, o controle remoto na mão, e um sorriso nos lábios que derrete qualquer sombra que ainda possa existir nos ombros de Jonathan.— Achei que você ia ficar o resto da noite vigiando a casa — ela provoca, com aquele tom leve e doce que ele ama.— Já vigiamos demais por hoje — ele responde, tirando a camisa e jogando-a em uma poltrona. — Agora eu quero vigiar você. Aqui, bem
O som seco da porta se fechando ecoa no escritório de Jonathan como um prenúncio. Seus olhos estão fixos nas imagens das câmeras espalhadas pela mansão, cada canto vigiado, cada movimento registrado. Mas ainda assim... não parece o bastante. A tentativa de sequestro de Marta deixou uma ferida aberta, e ele se recusa a sangrar de novo.— Quero mais homens no efetivo da segurança. Permanente. Não quero apenas revezamento — diz Jonathan, com a voz firme, encarando o chefe da segurança. — E reforcem os pontos cegos. Quero relatório diário. — Sim, senhor Schneider. Já estou reorganizando a escala — responde o homem, assentindo, ciente do peso daquela ordem.Enquanto ele ainda analisa a planta da mansão sobre a mesa, o celular vibra. É Islanne. Jonathan atende no viva-voz, os olhos ainda atentos aos papéis.— Fala, maninha. — Preciso falar com você sobre a conferência do setor farmacêutico em Montevidéu — diz ela, direta. — É uma oportunidade de ouro. Reunião com empresários internacionai
O sol mal nasce e a mansão Schneider já está em movimento. Marta acorda cedo, animada com a viagem. A sensação de sair da cidade, mesmo que a trabalho, acende nela um entusiasmo quase que adolescente e, principalmente, o fato de ser ao lado de Jonathan. O dia mal começou e ela já está separando as suas roupas com cuidado, dobrando tudo em pequenas pilhas sobre a cama, enquanto Jonathan, ainda de toalha na cintura, a observa encostado no batente da porta.— Vai levar o armário inteiro? — ele provoca, rindo ao ver a quantidade de roupas.— Isso porque nem comecei com os sapatos — ela devolve, lançando-lhe um olhar sapeca. — Além do mais, você me colocou como sua assistente pessoal. Preciso estar à altura. — Vai estar linda mesmo que vá com pijama — ele diz, se aproximando e a puxando pela cintura, beijando-lhe a testa com carinho. — Mas estou gostando dessa animação. Você vai ser a minha estrela nessa viagem.Ela sorri, com o rosto colado ao peito dele por alguns segundos. Jonathan pa
Há desejos que nascem do amor. Outros, do medo de perder. Mas há aqueles que surgem de um instinto primitivo, o de possuir, de marcar, de deixar claro a quem pertence cada centímetro de pele e alma. Jonathan Schneider, essa madrugada, não ama apenas, ele reivindica cada parte dela.O quarto da suíte presidencial é um campo de batalha sensorial. Lençóis revirados, corpos colados, respirações entrecortadas. Marta está sob ele, entregue, enquanto Jonathan a toma com uma fome que vai além do físico. Os olhos dele são puro fogo, e o toque é firme, possessivo. Ele a segura como se, de alguma forma, o mundo pudesse tentar tirá-la dele e ele jamais permitiria.— Você é minha, Marta. Toda minha — ele sussurra entre os beijos que traçam caminhos famintos por sua pele.Ela geme baixo, se arqueando para ele, as mãos cravadas nas costas largas de Jonathan, que a conduz como se quisesse eternizar aquele momento no corpo dela.— Só você… — ela responde, quase sem ar.Mas ele não quer apenas ouvir. Q