O som dos saltos de Marta ecoa com firmeza pelo corredor envidraçado do último andar. Ela segura uma prancheta contra o peito, com uma expressão confiante, os cabelos presos num coque elegante, os óculos de leitura caindo suavemente sobre o nariz. Nada mais na vida dela lembra a menina tímida de um ano atrás.Agora, ela é aluna de Administração na melhor universidade de São Paulo, braço direito do presidente do Grupo Schneider e, principalmente, uma mulher apaixonada e amada por Jonathan.Na sala de reuniões panorâmica, o clima é leve, mas carregado de números impressionantes. Gráficos projetados mostram crescimento, estabilidade, liderança de mercado. E no centro de tudo isso estão eles.— Um lucro líquido inesperado, maior que o do último ano. E olha que esse mercado anda instável — diz Islanne, com um sorriso satisfeito e o tablet nas mãos.— Estável pra quem não sabe onde pisa — rebate Jonathan, com aquele ar seguro que se tornou marca registrada dele. — Nós soubemos exatamente o
O mundo lá fora pode girar no caos do imprevisível. Mas aqui, entre quatro paredes, tudo que existe é ela. Marta. Espalhada entre os lençóis, nua, ofegante, entregue. Um corpo que pulsa, um coração que geme, uma alma que se desmancha inteira sob o olhar daquele homem.Jonathan está sobre ela, mas também dentro, ao redor, por trás de cada centímetro de sua pele. Seus olhos ardem com uma intensidade que beira a loucura. É um desejo que vai além do físico, é possessão, é necessidade, é um tipo de amor que corrói e consome.Ele não diz nada por um longo instante. Apenas a observa. Como se estivesse diante de um milagre raro e perigoso. Como se soubesse que tudo ali é precioso… e também volátil.E então sua voz vem, grave, rouca, carregada de uma luxúria crua.— Abre essas pernas para mim.Não é um pedido. É um comando. Um decreto entoado com reverência e fome. Ela obedece, sem hesitar. E em um segundo, a boca dele está nela, quente, exigente, alucinada. Ele a devora com a fome de um fami
A noite cai como um manto pesado sobre São Paulo. O céu nublado engole os últimos traços dourados do pôr do sol enquanto a cidade pulsa, viva, frenética. No grupo Schneider, Marta retoca o batom diante do espelho, enquanto Jonathan observa de longe, afrouxando a gravata e girando levemente um copo de whisky meio vazio na mão. Ele já tomou algumas doses com Ravi mais cedo no grupo, enquanto discutiam metas e estratégias. Mas ali, agora, o olhar dele está mais sombrio. Mais intenso.Eduardo dirige o carro, calado, até Jonathan dispensá-lo de forma seca ao chegar em casa.— Pode ir, Eduardo.Eduardo hesita, mas obedece. Marta percebe a tensão, mas não comenta.Minutos depois, eles seguem para o restaurante, ambiente luxuoso e reservado para executivos de alto escalão. Ao chegarem, Jonathan está mais sério que o normal, o hálito carregado de whisky, sussurra o início de um problema. Marta o segura pelo braço com carinho, tentando suavizar o clima.O empresário os espera já à mesa. Um home
Jonathan afunda mais um copo de whisky na garganta enquanto a mansão se fecha no silêncio ensurdecedor da ausência de Marta. Os olhos dele, vermelhos de bebida e raiva contida, vagam perdidos pela sala. Tudo ali tem cheiro dela, traços dela. E ele, como um furacão desgovernado, destruiu o que mais amava.Pega o celular, com os dedos trêmulos, e liga para o seu piloto pessoal.— Prepare o jato. Agora. — a voz arrastada não deixa espaço para argumentações.— Destino, senhor?— Campos do Jordão.Sem esperar resposta, ele desliga. Ele precisa sumir. Precisa fugir dele mesmo.Enquanto isso, Marta, ainda trêmula, se fecha no antigo quarto. O quarto que usava quando ainda não dividia a cama e a vida com Jonathan. O peito arde, o pescoço marcado lateja, e o silêncio da casa pesa como mil toneladas. Ela passou a noite acordada, olhos abertos, coração despedaçado. Deitada na beira da cama, com a mala aberta no chão, decide que é hora de ir. Hora de fechar o ciclo, ainda que ele a rasgue por den
Campos do Jordão…A noite cai espessa sobre as montanhas, como se o mundo inteiro decidisse vestir luto.Dentro do chalé, a lareira ainda crepita, mas seu calor é inútil, um fingimento de conforto num lugar onde tudo já morreu. Jonathan está ali. A sombra do homem que costumava ser.Do lado de fora, a neblina densa envolve as montanhas como um abraço sufocante. O clima perfeito para quem quer desaparecer. Para quem quer esquecer que acabou de destruir tudo.Ele passou o dia trancado ali. Nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Nada. Só ele, o silêncio e os fantasmas que agora fazem morada dentro de si.Na cabeça, a imagem dela. Marta. O jeito como ela puxava a coberta quando sentia frio. O sorriso torto ao se levantar ainda sonolenta. A forma como dizia "bom dia" como se o mundo todo coubesse em duas palavras ditas com amor.Sentado numa poltrona larga de couro, as pernas abertas, os cotovelos apoiados nos joelhos, ele segura um copo vazio como se fosse um escudo contra o inferno que queim
Jonathan desce do jato com os olhos fundos, cavados pelo cansaço e pela dor. O rosto pálido como cera reflete um homem que não dorme, não pensa com clareza, não sente mais fome. Apenas sofre. O vento cortante de São Paulo açoita seu rosto com a mesma violência que seus próprios pensamentos o flagelam, mas ele não reage. Não sente. O verdadeiro frio vem de dentro, gélido, denso, permanente. E congela tudo.O motorista abre a porta da SUV com um aceno mudo. Jonathan não ergue os olhos.— Mansão. Agora. — diz, a voz rouca, seca, como se qualquer emoção fosse um luxo que ele já não pode se permitir.O carro avança pela cidade, mas Jonathan sente que está parado no tempo. As ruas passam, os semáforos se apagam, mas ele continua suspenso, imóvel, como se estivesse preso em uma bolha onde só o passado ecoa. A lembrança de Marta, de tudo que ela foi, tudo que representou, tudo que ele destruiu, o atravessa como vidro quebrado.Aquela risada que fazia seus ombros relaxarem depois de um dia inf
O salto de Islanne ecoa pelo hall do Grupo Schneider como um alerta, ela voltou. Com os cabelos presos em um coque elegante e os olhos por trás dos óculos escuros afiados como lâminas, a vice presidente cumprimenta os funcionários com um leve aceno de cabeça, mantendo a postura ereta e determinada.— Bom dia, Mônica. Jonathan e Marta já chegaram? — pergunta, sem perder o passo.— Ainda não, Islanne. Nenhum dos dois. — Mônica responde, consultando a agenda.— Assim que Marta chegar, peça para vir direto à minha sala. — E, sem esperar resposta, segue pelo corredor imponente até seu escritório.A rotina começa a retomar forma, mas Islanne sente algo fora do lugar. Algo... errado.Liga seu computador, conecta-se ao sistema interno e começa a checar os relatórios financeiros da última semana. Quando os olhos batem em uma movimentação vultosa na conta pessoal de Marta, ela franze o cenho.— Uma transferência dessa magnitude... por que isso não foi registrado nos canais formais?Confere nova
Marta acorda com o corpo moído, como se tivesse apanhado da vida por dentro e por fora. Cada músculo dói, mas nada se compara ao que arde por dentro, a alma em frangalhos, em pedaços tão pequenos que ela sequer sabe por onde começar a juntar.O quarto do hotel é simples, limpo, sem luxo algum, mas com dignidade. O travesseiro ainda tem o cheiro do sabão barato dos lençóis, e isso de alguma forma a acolhe. Um cheiro que não pertence a ninguém além dela mesma. Pela primeira vez em muito tempo, está sozinha, completamente sozinha e, paradoxalmente, isso a fere e a liberta.Ela se senta na beira da cama. Encarar o chão já exige esforço. Encarar o dia, então, parece um desafio imenso. No canto do quarto, a mala ainda meio aberta guarda as roupas. Uma parte dela quer deitar de novo, fechar os olhos e sumir do mundo. Dormir por dias, semanas, meses. Desaparecer até não sentir mais nada.Mas ela não vai.Ela respira fundo. Fecha os olhos. Uma. Duas. Três vezes.Não dessa vez.Com lentidão, le