O silêncio do centro médico não é comum. Não é o silêncio natural de um ambiente hospitalar, mas sim um tipo denso e carregado, quase sólido. Parece prender o ar, como se o próprio tempo estivesse em suspensão. Afonso Schneider sente esse peso como um casaco molhado sobre os ombros. Caminha pelo corredor impecavelmente limpo e iluminado, os sapatos de couro ecoando sobre o piso de mármore, cada passo seu acompanhado por pensamentos que se atropelam. Ele conhece bem aquele lugar — o cheiro de antisséptico, o som abafado de vozes ao fundo, a presença invisível da angústia.
Mas nada disso é pior do que o que sente por dentro. Porque, embora o rosto mantenha a compostura de um executivo experiente, por dentro é só um homem. Um marido. Um pai. Um avô que, pela primeira vez, sente que o tempo corre mais rápido do que pode acompanhar.
A poucos metros dali, em uma sala de paredes brancas e janelas fechadas, Cátia Schneider está sentada sobre a maca. Ela inspira devagar, os olhos voltados para