O chão de cerâmica antiga desliza sob os pés de Marta assim que ela cruza a soleira da porta. O som é baixo, mas para ela, ecoa como um trovão de lembranças. Dona Maria a recebe com um sorriso trêmulo nos lábios, os olhos marejados, e a voz que sai quase como um sussurro de oração atendida.
— Mantive tudo como você deixou, filha... — diz, engolindo o choro, com o coração nas mãos.
Marta para no meio do quarto. Fica imóvel, como se atravessar aquela porta fosse regressar no tempo, mas o tempo agora é outro, e ela, outra mulher. O olhar dela vagueia lentamente, absorvendo cada detalhe. A colcha florida, a mesma que ela escolheu quando ainda tinha esperanças inocentes no coração. Os livros enfileirados na estante, um deles com o marcador ainda na página em que parou há anos atrás. O mural de fotos, o rosto de sua infância ao lado do irmão. A cortina azul-claro... tudo limpo, lavado, organizado. Intocado.
Como se o quarto tivesse segurado a respiração, esperando o seu retorno.
Ela se vira