O som do motor ao longe não faz sentido algum. Não àquela hora, não com ela grávida, e certamente não com ela ao volante do caminhão boiadeiro da fazenda. Eduardo paralisa na sala, o café ainda quente nas mãos, os olhos fixos no peão que entra esbaforido e grita:
— Dona Darlene saiu dirigindo o caminhão! Disse que ia descarregar os bois no matadouro!
O tempo congela.
Eduardo sente o mundo girar ao contrário, como se as leis da lógica tivessem sido violadas de propósito só para atormentá-lo. A caneca escapa de sua mão, espalha café pela mesa de madeira maciça e pinga lentamente no chão, mas ele nem percebe. Já está de pé, o rosto pálido, os olhos arregalados, a voz trêmula.
— O quê? COMO ASSIM O CAMINHÃO?
O peão coça a cabeça, ainda ofegante.
— Ela tava tranquila, disse que não precisava de ajuda. Pegou a chave no compartimento, conferiu a documentação e foi…
— E VOCÊ DEIXOU?! Eduardo grita, já pegando as chaves do próprio carro. — VOCÊ VIU E DEIXOU ELA SAIR?!
— Mas… mas ela disse que