O céu ainda está riscando os primeiros tons de azul quando Miguel desperta, os olhos brilhando com um entusiasmo que nem ele tenta disfarçar. Espreguiça-se devagar, calçando as botas ao pé da cama. O canto dos galos lá fora já chama para a lida e, sem reclamar, ele parte direto para os galpões, onde centenas de pintinhos esperam por água fresca e ração medida com cuidado e toda a sua atenção.
Miguel trabalha em silêncio, os movimentos firmes, repetidos com a precisão de quem conhece bem a rotina. Mas, por dentro, seu coração corre em outro ritmo. A cada passo, a cada comedouro cheio, ele pensa nela. Em Mariana. Na voz suave, no sorriso que desarma, na doçura decidida que mexeu com tudo dentro dele.
Quando termina, já suado e coberto de poeira fina, volta para casa assobiando. Dona Maria já colocou café fresco na garrafa térmica, e o cheiro invade o alpendre. Mas antes de qualquer gole, Miguel vai direto para o chuveiro. Tira a roupa suada, entra na água morna e deixa o corpo relaxar.