📓 Narrado por Miguel Satamini — Segunda-feira, noite
O copo quase estourou na minha mão. O gelo rachou, o líquido tremeu, e minha paciência também.
Levantei os olhos devagar, mirando Renato como quem mira a cabeça de um alvo.
— Você acha isso mesmo? — perguntei, a voz baixa, grave, firme como chumbo.
Ele não recuou. Nunca recua. Apenas se recostou na cadeira, o sorriso maldito ainda estampado, girando o uísque na mão como se estivesse no comando do jogo.
— Eu não acho, Satamini. — respondeu, o tom carregado de provocação. — Eu tenho certeza.
Minha mandíbula travou. O silêncio pesou entre nós, denso, sufocante.
Por dentro, a imagem de Clara me queimava: sábado à noite, o corpo dela cavalgando o meu no escuro, a voz gemendo meu nome como sentença.
Por fora, meu rosto era puro mármore.
Inclinei o corpo levemente sobre a mesa, os olhos cravados nele, sem piscar.
— Então vou te dar um conselho, Renato… — soltei, cada palavra como faca deslizando no ar. — Não se meta onde não é c