📓 Narrado por Miguel Satamini — Segunda-feira
Eu respirei fundo, cada músculo do meu corpo pedindo pra avançar naquela provocação dele. Mas mantive o disfarce. O homem que Lacerda via não podia ser o mesmo que queimava por dentro.
Ele se ajeitou na cadeira, a perna cruzada com calma irritante, e soltou como quem lança uma isca:
— Então estamos combinados. Saímos sexta à noite. Se quiser, senhorita Clara, eu mesmo passo em sua casa para buscá-la.
O olhar dele grudado nela. Sempre nela.
Foi aí que não deu mais. Inclinei-me pra frente, a voz grave cortando como faca:
— Não. — Minha palavra ecoou seca. — Quem busca Clara sou eu.
Os olhos dele brilharam de deboche, mas não moveu um músculo. Só aquele sorriso maldito, satisfeito em ver que tinha me arrancado reação.
Clara ergueu os olhos, surpresa, talvez confusa. Não disse nada. Mas eu vi a forma como ela respirou fundo, como se minha intervenção tivesse pesado nela de um jeito que nem ela queria admitir.
Lacerda apoiou o braço n