📓 Narrado por Miguel Satamini — Segunda-feira, 08h15
O elevador abriu no meu andar e, como sempre, o som do salto de Marisa ecoava logo atrás de mim. Um passo de distância. Sempre um passo de distância. Ela sabia a regra.
O corredor envidraçado refletia meu terno escuro impecável, gravata sóbria, o rosto sério de quem não precisa de esforço pra impor respeito. Cumprimentei ninguém. Eu não sorria aqui. Nunca.
O bip seco do cartão abriu as portas do meu escritório. Entrei primeiro, Marisa atrás. O cheiro de café fresco e papel recém-impresso já preenchia o ambiente. Joguei a pasta que carregava sobre a mesa, direto, sem cerimônia.
Foi então que ela falou.
— Senhor… — a voz saiu firme, mas havia veneno escondido ali. — O senhor realmente pretende levar a Clara nessa viagem?
Virei o rosto devagar. Só o olhar foi suficiente pra fazer o silêncio pesar entre nós.
— Tem algo errado com a minha decisão, Marisa? — perguntei, baixo, frio.
Ela não recuou. Apertou a pasta contra o peito,