**Narrado por Miguel Satamini**
Ela segurava o copo com as duas mãos, como se fosse um objeto de valor inestimável. Seus olhos verdes acompanhavam com atenção o movimento lento dos cubos de gelo que se chocavam contra o vidro, criando um espetáculo sutil e hipnotizante. Cada vez que levava a bebida aos lábios, eu me via fixando em um detalhe específico: os lábios vermelhos roçando a borda do cristal, deixando um brilho discreto e sedutor.
Eu também tinha meu copo em mãos, mas a bebida em si não despertava meu interesse. O sabor era o de sempre: um uísque forte, amadeirado, um gosto familiar. O que realmente capturava minha atenção era a maneira como ela se deliciava com a própria bebida em goles curtos e estudiosos, como se estivesse medida cada gota que descia pela garganta.
Clara.
Ela me observava com intensidade, ora com um olhar firme, ora com aquele brilho de curiosidade quase infantil. O silêncio que se formava entre nós não era desconfortável; pelo contrário, parecia fluir