Orlando Narrando
Quando ela abriu a porta e me encarou, senti o tempo parar por alguns segundos. Era a minha menina. A minha filha. Tão mulher, tão dona de si. E, ainda assim, nos olhos dela, eu vi a dor que deixei lá atrás.
— Pai? — ela disse, como se a palavra fosse estranha na boca dela. E era. Eu sei. Eu fui um pai ausente. Um covarde, talvez. Me separei da mãe dela e fui embora como se isso não fosse deixar marcas. Mas agora… agora eu queria fazer diferente.
Depois que ela me deixou ali, parado na sala, e foi buscar um copo d’água — talvez só pra respirar longe de mim —, eu aproveitei pra observar. A casa dela era simples, aconchegante. Tinha foto dela com o menino… meu neto. Luizinho. A ficha ainda estava caindo.
Sentei no sofá, meio sem jeito. Ouvi ela conversando baixinho com o tal do Everton na cozinha. Parecia que ele estava tentando acalmar ela. E isso, de alguma forma, me tranquilizou.
Quando ela voltou e sentou de frente pra mim, o olhar dela era duro, mas não fechado. U