Orlando Narrando
Meu nome é Orlando. Tenho 51 anos, mas a vida me fez envelhecer antes do tempo. Morei por muitos anos em outra cidade, tentando construir uma vida nova depois de ter deixado para trás o maior erro da minha vida: abandonar minha filha, Priscila.
Na época, eu me sentia perdido. Tinha medo de não ser o pai que ela merecia, medo de fracassar como homem, como marido, como tudo. Então fugi. Não foi nobre, nem justificável — eu sei. Mas o tempo cobra, e eu paguei com juros e dor.
Vivi anos tentando esquecer, fingindo que tinha seguido em frente, quando, na verdade, cada aniversário dela era um soco no peito. Cada vez que alguém falava em "família", eu engolia seco e desviava o olhar.
Até que recebi a ligação da Neuza.
A voz firme dela do outro lado da linha me fez perceber que não dava mais pra fugir. Ela não me ligou pra me acusar, nem pra me humilhar — ligou pra me dar uma chance. Uma última. E eu agarrei com as duas mãos.
Voltei. Com o coração na mão e cheio de incerteza