O céu já tingia o horizonte com um azul suave quando a última nota do "Interlúdio Esquecido" silenciou. Mas, como antes, o silêncio que se seguiu era uma extensão da música — um espaço preenchido, não vazio.
Clarice foi a primeira a abrir os olhos.
— Não foi um adeus — murmurou. — Foi um convite.
Leonardo ainda tinha as mãos sobre o teclado. Não tocava mais, mas seus dedos pareciam hesitar em deixar as teclas.
— Foi... diferente de tudo. Como se ela estivesse aqui. Não só ouvindo — tocando conosco.
Ana acariciava a madeira do violino, olhos marejados. Seu corpo ainda vibrava, como se cada célula tivesse sido afinada.
— E talvez... ainda esteja. Não com presença física, mas... com tudo o que nos deixou.
Um vento leve atravessou a janela semiaberta. As cortinas esvoaçaram com suavidade, trazendo um cheiro conhecido — alfazema e terra molhada. O perfume que sempre impregnava os vestidos da mãe.
Clarice se levantou lentamente, com a flauta ainda na mão. O diário jazia aberto no chão, e, c