Emma e Sofia estavam terminando o café da manhã quando o som da porta da frente se abrindo ecoou pela mansão. A garotinha, que até então estava sorrindo, ficou tensa.
Alexander Carter entrou na cozinha com sua presença imponente. Vestia um terno impecável, e seu olhar frio passou por Emma antes de pousar em Sofia. — Você comeu tudo, Lily? — Sua voz era séria, mas não dura. A menina assentiu lentamente, ainda segurando o ursinho. — Sim, papai. Emma fez panquecas. Alexander desviou o olhar para Emma. — Espero que não tenha colocado açúcar demais. Sofia não pode comer doces em excesso. Emma manteve a postura firme. — Fiz questão de equilibrar bem os ingredientes, senhor Carter. sofia se alimentou de forma saudável. Ele arqueou uma sobrancelha, como se não esperasse uma resposta tão direta. — Ótimo. Houve um breve silêncio antes de ele se virar para sair. — Senhor Carter? — Emma o chamou, sem pensar. Ele parou e olhou para ela, intrigado. — Sim? — Sei que sua rotina é corrida, mas talvez Sofia gostasse de passar um tempo com você antes de sair. Alexander franziu a testa, visivelmente incomodado. Sofia abaixou a cabeça, segurando o ursinho mais forte. — Minha filha tem tudo o que precisa. E eu preciso trabalhar. Sem mais uma palavra, ele saiu. Emma suspirou. Esse homem era uma verdadeira muralha de gelo. Depois que Alexander saiu, Emma percebeu que Sofia estava mais silenciosa. A menina brincava distraidamente com o ursinho, evitando olhar para a porta por onde o pai havia saído. — Ei, que tal fazermos algo divertido hoje? — Emma sugeriu, tentando animá-la. Sofia a encarou com um olhar desconfiado. — Tipo o quê? — Podemos brincar no jardim, fazer um desenho ou até assistir ao seu desenho favorito. A garotinha balançou a cabeça. — Papai não gosta que eu assista muita TV. Emma sorriu. — Então vamos fazer algo diferente! Que tal um castelo de cobertores na sala? Os olhos de Sofia brilharam por um instante, mas logo sua expressão se fechou. — Margaret não vai gostar. Emma se abaixou na altura dela. — Não estamos quebrando nenhuma regra, estamos? Lily pensou por um momento e então sorriu. — Acho que não… Primeiro passo para conquistar a confiança dela: feito. Depois de uma manhã de brincadeiras, Margaret chamou Emma para conversar. — Senhorita Miller, preciso esclarecer algumas regras da casa. Emma assentiu, cruzando os braços. — Claro. — O senhor Carter é um homem muito ocupado e gosta que as coisas sejam feitas de forma organizada. Você deve seguir os horários da Sofia com precisão: café da manhã às 7h, almoço às 12h, cochilo às 14h e banho às 19h. Emma anotou mentalmente. — Entendido. — Além disso, evite incomodar o senhor Carter com assuntos triviais. Ele não gosta de distrações. Emma franziu a testa. — Ele quase não passa tempo com a filha, percebeu isso? Margaret suspirou. — Essa não é uma questão que nos cabe discutir. Apenas siga as regras. Emma não respondeu, mas algo dentro dela dizia que Sofia precisava muito mais do que horários rígidos e regras. Precisava de amor. E Emma estava disposta a mostrar isso a Alexander Carter. O dia passou rápido, e Emma conseguiu manter Sofia ocupada com brincadeiras e leituras. A menina parecia estar se acostumando com sua presença, o que era um bom sinal. Por volta das sete da noite, Emma ajudou Sofia a tomar banho e vestiu-a com um pijama rosa com estampas de estrelas. Quando desceu as escadas com a menina no colo, encontrou Margaret organizando a mesa de jantar. — A senhorita pode jantar na cozinha — informou a governanta. — O senhor Carter prefere comer sozinho. Emma arqueou uma sobrancelha. — Sofia não janta com ele? — Raramente. Emma mordeu a língua para não responder algo impulsivo. Que tipo de pai jantava sozinho enquanto sua filha comia separada? Antes que pudesse dizer qualquer coisa, a porta da frente se abriu. Alexander Carter estava de volta. Ele parecia exausto, a gravata frouxa e a expressão dura de sempre. Mas seu olhar suavizou por um segundo ao ver Sofia correndo até ele. — Papai! Ele abaixou-se, permitindo que a filha o abraçasse. — Como foi seu dia? — perguntou, com um leve sorriso. — Foi legal! A Emma construiu um castelo de cobertores comigo. Alexander ergueu o olhar para Emma. — Um castelo de cobertores? Ela cruzou os braços. — Sim. Sofia adorou. Ele não respondeu de imediato, apenas analisou-a por um momento. Então, voltou sua atenção para Margaret. — Sirva dois pratos no salão principal. A governanta hesitou. — Dois, senhor? Alexander olhou para Emma. — Você vai jantar comigo. Emma piscou, surpresa. O CEO frio e inacessível estava a convidando para jantar? Sofia bateu palminhas. — Oba! O papai nunca janta com ninguém! Emma engoliu em seco. Aquilo com certeza seria interessante. Emma seguiu para o salão de jantar com o coração acelerado. Nunca havia estado ali àquela hora, muito menos como convidada. O ambiente era elegante, silencioso e imponente, como tudo em torno de Alexander Carter. Margaret, com uma expressão rígida, organizava os pratos na mesa. Sofia correu animada até sua cadeira e subiu com a ajuda de um banquinho. Emma hesitou por um momento, mas Alexander indicou a cadeira ao seu lado com um gesto sutil. Ela se sentou, tentando manter a postura, mesmo sentindo o olhar dele sobre si. — A comida parece deliciosa — comentou ela, tentando quebrar o silêncio incômodo. — Margaret é eficiente — respondeu Alexander, sem emoção. Sofia começou a falar animadamente sobre o castelo de cobertores, sobre como Emma leu uma história de princesas e como o ursinho agora tinha um trono. Emma a observava com carinho, e Alexander também parecia escutá-la, embora com uma expressão difícil de decifrar. — Parece que você se divertiu muito hoje — disse ele, tentando soar leve. — Sim! A Emma sabe brincar de tudo! — Sofia respondeu, colocando um pedaço de cenoura na boca. Alexander apoiou os talheres por um instante, olhando para Emma. — Ela está mais... feliz. Desde que você chegou. Emma sentiu o estômago se apertar. Não sabia se aquilo era um elogio ou uma crítica velada. — Eu só tento dar a ela um pouco de atenção. É uma menina incrível, só precisa ser vista — respondeu com sinceridade. Ele sustentou o olhar dela por um segundo a mais do que o necessário. Depois, voltou a comer, como se não quisesse se aprofundar naquele assunto. O jantar transcorreu em silêncio após isso, até que Sofia começou a bocejar. Emma a levou de volta ao quarto, leu uma história rápida e a cobriu com o cobertor preferido. Quando voltou para a sala, Alexander ainda estava ali, agora com um copo de whisky na mão, diante da lareira acesa. — Obrigado por hoje — disse ele, sem virar o rosto. Emma cruzou os braços. — Ela precisa disso todos os dias. Precisa de você. Alexander deu um gole na bebida. — Eu não tive um pai presente. Tudo o que conquistei foi por esforço. Não sei como... ser esse tipo de figura. — Não é sobre saber. É sobre tentar. Ela só quer sentir que é importante pra você. Silêncio. Emma deu um passo à frente, hesitante, mas firme. — Eu não sou como as outras pessoas que já passaram por aqui. Não me assusto fácil. E não vou fingir que não vejo o que está diante de mim. Ele finalmente se virou, o olhar mais suave, mas ainda em guarda. — E o que você vê? — Um homem que tem medo de amar, porque acha que o amor vai desviá-lo do controle. Mas a verdade? É que sua filha precisa que você perca esse controle, ao menos um pouco. Alexander respirou fundo. Não respondeu. Mas também não a mandou embora. Emma entendeu aquilo como um começo. E, às vezes, tudo que se precisa é de um começo.