Lorenzo Ferraz O dia da festa do meu lindo garoto chegou. Não vi Celina hoje e, pra ser honesto, nem quero ver. Me tranquei no escritório, tentando ocupar a mente com relatórios, e-mails, planilhas... qualquer coisa que não fosse ela. Mas não adiantou. A imagem dela me invadia mesmo quando eu não queria. Cada silêncio no ambiente parecia ecoar o som do choro dela da noite passada. Me afoguei em trabalho até perceber que estava na hora de me arrumar. Subi para o quarto com o coração pesado. Sentei na beira da cama, encostei os cotovelos nos joelhos e enterrei o rosto nas mãos. — Que merda eu tô fazendo? Minha voz saiu baixa, rouca, como se nem tivesse mais forças. Sinto um aperto no peito, uma dor que não passa. A verdade é que não está sendo bom pra mim... e muito menos pra ela. Queria arrancar esse ódio do meu peito. Queria poder olhar pra Celina e só sentir amor, como antes. Queria esquecer tudo, perdoar, voltar atrás... mas não consigo. O que vi, o que ouvi... não me deixa em
Celina Alves Eu chorei tanto depois que fizemos amor e ele saiu sem olhar na minha cara. Foi tão bom... Sentir seus lábios nos meus, seu toque que eu conheço tão bem, seu cheiro misturado ao suor da paixão. Eu esperei tanto por isso. Esperei por ele. Mas o que recebi foi silêncio e uma porta batida. Lorenzo nem sequer me olhou. Meu coração está em pedaços. Ainda o amo com todas as forças que me restam, mas estou cansada... cansada de me doar inteira e receber migalhas. Já se passaram meses desde que voltei para a casa. Lorenzo disse que iríamos nos casar depois do aniversário do Luan. E o aniversário passou. Como tudo passa. E ele… ele nem tocou mais no assunto. Parece que suas promessas foram feitas apenas para me manter por perto. A solidão aqui me consome. Esta casa é linda, espaçosa… mas vazia. Não tem risos, não tem conversas, não tem amor. Apenas ecos e lembranças. Ana é a única com quem posso contar, mas Lorenzo a manda para a casa da mãe dele com o nosso filho, me deixan
Celina Alves Preciso fazer alguma coisa, ou ele vai acabar se matando de tanto beber. Lorenzo estava largado, dormindo sentado na poltrona de couro da suíte. A garrafa de uísque estava vazia no chão. Seu rosto carregava marcas do cansaço, do álcool e da culpa. Esse homem está se afundando... e tudo por causa daquela maldita Gabrielle. Me aproximei em silêncio, sentindo o coração bater forte. O celular dele estava sobre o criado-mudo, desbloqueado, como se o destino estivesse me oferecendo uma chance. Agarrei a oportunidade. Toquei no aparelho e fui direto nas conversas com Gabrielle. Li por cima e senti a raiva me consumir. Sem pensar duas vezes, selecionei todas as mensagens e enviei para o meu número. Depois, apaguei todos os rastros da ação. Se eu soubesse clonar o celular, seria mais fácil. Mas infelizmente, ainda não cheguei nesse nível. De qualquer forma, agora eu tinha o número daquela piranha. Voltei a olhar para Lorenzo. Como ele teve coragem de beber a garrafa inteira?
Lorenzo Ferraz Eu estou à beira de explodir. É inacreditável como Celina mentiu para mim durante todo esse tempo. Com aquela cara de boa moça, me dizendo que nunca nem se tocou, que era inocente... e agora eu descubro coisas que me enojam. Coisas que me fazem questionar minha sanidade por tê-la amado. Aos quatorze anos, ela já permitia que homens colocassem as mãos em seu corpo. Tem fotos — fotos, meu Deus — dela tão nova, de lingerie, fazendo poses que nenhuma adolescente deveria fazer. No início, eu queria acreditar que era armação da Gabrielle, mais uma tentativa dela de destruir a imagem de Celina. Mas quando Marina entrou na história e confirmou tudo... eu gravei. Palavra por palavra. Agora não resta mais dúvida. Ela não vai escapar dessa vez. Minha decisão está tomada: vou tirar Luan dela. Não vou deixar meu filho crescer perto de uma mulher com um passado tão sujo. Liguei para um dos seguranças. Ele disse que minha mãe havia saído com Celina. Ela só pode estar louca!
Lorenzo Ferraz Saí do hospital com o coração em chamas, o ódio pulsando em cada veia como veneno. Meu sangue fervia, meus punhos cerrados tremiam no volante, e minha cabeça latejava de tanta raiva. Eu estava disposto a cometer uma loucura. Apertei o acelerador até o máximo. O carro parecia voar pelas ruas. Eu não ligava. Poderia muito bem causar outro acidente, morrer, matar... Nada mais fazia sentido. Eu só conseguia pensar em uma coisa: Matar aquela desgraçada da Marina. Assim que a vi parada no ponto, como se nada tivesse acontecido, parei o carro bruscamente e saltei como um raio, indo direto ao seu pescoço. Meus dedos cerraram em torno de sua garganta com fúria. — QUANTO VOCÊ GANHOU PARA FALAR AQUILO SOBRE A CELINA, SUA VADIA?! — gritei, completamente fora de mim. Estava prestes a esmagá-la quando um braço forte me puxou com brutalidade para longe dela. Na mesma hora, reconheci o dono daquela força. — Heitor?! O que você está fazendo aqui? — Sua mãe me ligou. Disse que v
Heitor Parker Sou Heitor, melhor amigo do idiota do Lorenzo. Um idiota teimoso, cabeça dura, cego pelo ciúme e pelo orgulho. E sinceramente? Tô quase socando a cara dele. Não sei mais o que fazer pra ajudar esse homem a sair do buraco em que se enfiou. O Lorenzo de antes? Sumiu. Agora é um cara amargurado, desconfiado, que transformou a vida dele — e a de todo mundo ao redor — num inferno. Ele não me escuta. Tenho certeza que aquela garota, a tal Celina, não fez nada. Mas quando o cara fica cego por ciúme… é um caminho sem volta. Depois de anos, ele reencontra a mulher, e me arrasta junto pra esse plano maluco de isolamento. Me fez voltar só pra preparar uma casa gigantesca, longe de tudo e todos. Eu juro, nunca pensei que ele fosse tão louco. E olha que o conheço bem. Lorenzo costumava ser o tipo de homem que todos admiravam: generoso, divertido, coração gigante. Mas agora? É só um homem frio, grosseiro e obcecado pelo trabalho — ou pela vingança, vai saber. Ele sempre dizia que
Celina Alves Estava deitada no sofá da casa da senhora Elizabeth, tentando relaxar depois de um dia cansativo, quando aquele perfume invadiu o ambiente. Não era qualquer perfume. Era o cheiro dele. Do meu Lorenzo. O coração apertou no peito. Era impossível não reconhecê-lo. Mesmo que o tempo passasse, mesmo que o mundo desabasse, aquele cheiro sempre faria meu coração bater mais forte. Eu o amo. E vou amar pra sempre. Pode parecer loucura, mas é isso. Sim, ele foi cruel. Sim, ele me fez sofrer. Mas meu amor por ele... é maior que tudo isso. Já perdoei o Lorenzo há muito tempo. Não sou de guardar rancor, e aprendi que guardar dor só nos destrói por dentro. Prefiro seguir em frente. Prefiro acreditar no amor que sinto. Mesmo que ele tenha duvidado de mim, mesmo que tenha me deixado, mesmo que tenha feito tudo errado. Ele merece meu perdão. E eu mereço paz. — Cadê ele? — perguntei, me sentando de repente no sofá, sentindo meu peito disparar. — Ele te viu, não esperou eu falar n
Celina Alves — Vamos buscar, titia Tamara! — Luan b**e palminhas, empolgado. — Ebaa, mamãe! É verdade que a tia Tamis vai vir pra cá? Viu, agora só falta o papai vir. Por que ele não vem logo? Essa pergunta me corta como uma lâmina. Toda hora é isso. Luan quer saber por que o pai não está aqui, por que ele não vem vê-lo, e eu não sei mais o que inventar para acalmar seu coraçãozinho. Ele sente falta. E eu também. Só que Lorenzo se trancou naquela maldita casa como se o mundo aqui fora não importasse mais. E ninguém consegue entrar. Nem com reza brava. Se eu pudesse, enfiava um trator naquela cerca e derrubava o portão. A casa é toda cercada por muros altos, câmeras, sensores… parece uma prisão de luxo. E pra abrir aquele portão? Um verdadeiro ritual. O pior é que ele deixou o celular descarregar, ou desligou de propósito. Ninguém consegue falar com ele há dias. Meu coração não está nada bem com isso. Assim que eu voltar do aeroporto, vou até lá com o Heitor. Dessa vez, nem que