Mundo de ficçãoIniciar sessãoO meu noivado com Leonardo Rodrigues, meu Chefão, nunca passou de uma promessa suspensa, sempre à beira de acontecer. Noivos havia cinco anos, chegamos a realizar trinta e duas cerimônias, mas todas terminaram em desastres inesperados no meio do caminho. Na trigésima terceira tentativa, quando a celebração já avançava pela metade, um estrondo sacudiu a igreja: a parede lateral desabou de repente. Os escombros me atingiram em cheio, e fui levada às pressas para a UTI. Com o crânio fraturado, uma forte concussão cerebral e mais de dez alertas de risco de morte, lutei entre a vida e a morte por dois meses até conseguir respirar sem aparelhos. No dia da minha alta, porém, escutei por acaso uma conversa entre Leonardo e o seu homem de confiança: — Sr. Leonardo, se o senhor realmente se apaixonou por aquela estudante pobre, basta romper o noivado com a Srta. Juliana. O peso da família Rodrigues é suficiente para silenciar qualquer boato. Por que criar acidente atrás de acidente? Ela quase morreu. Cada sílaba na voz dele trazia o peso da reprovação. Leonardo permaneceu em silêncio por muito tempo antes de responder: — Eu não tinha outra escolha. Dez anos atrás, o Sr. Thiago e sua esposa salvaram minha vida ao custo da deles. Essa dívida de gratidão só posso pagar com este noivado. Mas eu amo Amanda. Fora ela, não quero me casar com mais ninguém. Olhei para as cicatrizes que riscavam meu corpo e chorei em silêncio. Descobri, enfim, que toda a dor que suportei não vinha de um destino cruel, mas da frieza e dos cálculos do homem que eu mais amava. Se ele não conseguia tomar uma decisão, caberia a mim colocar um fim em tudo isso.
Ler maisDona Larissa levou-me para uma clínica de repouso na Suíça, um centro médico de luxo, discreto e quase invisível aos olhos do mundo.Depois de ter engolido aquela quantidade absurda de comprimidos, meu corpo já debilitado pelo câncer, quase entrou em colapso.Foi Dona Larissa quem chegou a tempo e me salvou.Lembro-me claramente daquele dia: a matriarca, sempre elegante e imponente, ajoelhou-se diante de mim, em lágrimas, pedindo perdão a mim… E aos meus pais, que já não estavam mais neste mundo.Mas, para mim, nada disso tinha mais importância.O tumor em meu cérebro era como uma bomba adormecida, enterrada em silêncio, esperando apenas o momento de explodir.Eu podia morrer a qualquer instante.Minha única mágoa era o anel de sinete que meu pai me deixara. Estava em pedaços.Recolhi cada fragmento com cuidado e os guardei em uma caixa de veludo.Por mais que tentasse, não havia como reconstituir o passado.Três meses depois, ainda em meio ao tratamento, Leonardo finalmente me encontr
Leonardo voltou ao hospital.Assim que o viu, os olhos de Amanda brilharam, tomada por uma esperança quase infantil.Ela sorriu, tentando soar doce:— Leonardo, eu sabia que você nunca me abandonaria…Quis segurar a mão dele, mas Leonardo afastou-se friamente, sem permitir qualquer aproximação.Seu olhar, antes carregado de calor, agora não passava de gelo e julgamento.— A sua tentativa de suicídio… Foi mesmo a Juliana quem a obrigou? — Perguntou, com uma voz dura, sem deixar espaço para evasivas.Amanda não esperava que ele voltasse a questionar isso. Respirou fundo, tentando manter a calma:— Claro que foi! Leonardo, você não pode acreditar nos outros, ela é esse tipo de mulher…— Eu investiguei. — Interrompeu ele, seco, a voz sem emoção, apenas exalando cansaço e decepção. — Juliana não tinha nenhum contato direto com você. Como poderia tê-la forçado? Como, justamente no dia em que decidi ir à igreja, você escolheu se matar? Os médicos foram claros: a quantidade de remédio no seu s
Leonardo mobilizou ainda mais homens, vasculhando quase toda a rede subterrânea da cidade.Mesmo assim, não encontrou nenhum rastro meu.Era como se eu nunca tivesse existida.No fim, não teve alternativa senão procurar sua mãe, uma das verdadeiras mentoras ocultas da família Rodrigues.— Mãe, a senhora sabe onde está a Juliana? Ela desapareceu, não consigo encontrá-la. — A voz de Leonardo carregava uma urgência que nem ele percebia.Dona Larissa lançou a ele um olhar gélido, indiferente:— Não precisa procurá-la. Em nome da família Rodrigues, já rompi o seu noivado com Juliana. A partir de agora, ela não tem mais nenhuma ligação com você.As palavras caíram sobre Leonardo como um golpe brutal no peito.Ele se sentiu tonto, e a réplica saiu em um grito sufocado:— Romper o noivado?! Com que direito?! Esse compromisso foi selado com a vida da família dela! Nós fizemos um juramento de sangue!Dona Larissa deixou escapar um sorriso carregado de ironia:— Juramento de sangue? Então você ai
Ao ouvir a resposta, o rosto de Leonardo empalideceu de repente, branco como papel.Desde que Amanda começara a ser socorrida, haviam se passado quase duas horas.A dose que ele a obrigara a tomar… Era suficiente para apagar qualquer pessoa nesse intervalo.Num rompante, empurrou os homens que o cercavam e saiu tropeçando pelos corredores do hospital. Subiu no carro e arrancou em disparada em direção à mansão de Amanda.Durante todo o trajeto, o coração batia descompassado, como se fosse explodir dentro do peito.O silêncio ao redor o enlouquecia. Nenhuma mensagem chegava ao celular. Desesperado, discava sem parar para o número dela, mas só ouvia o sinal frio e interminável de linha ocupada.A porta da mansão continuava entreaberta.A sala estava do mesmo jeito: um cenário de caos.No chão, apenas um frasco vazio de remédios e estilhaços de um anel quebrado. Nenhum sinal de vida.Leonardo respirava com dificuldade. A voz rasgou-lhe a garganta quando gritou:— Juliana?!O eco devolveu a
Assim que a voz aflita do funcionário se calou, Leonardo se levantou de súbito.Toda a razão o abandonou, restando apenas o pânico estampado em seu rosto.— Juliana! Como ousa… — Rosnou, quase rangendo os dentes.Em todos esses anos ao lado dele, era a primeira vez que o via perder o controle daquela forma.Sem me dar a menor chance de me explicar, ele fez um sinal brusco.Os seguranças atrás dele me agarraram à força e me arrastaram até o carro, levando-me direto para a casa de Amanda.A mansão estava em caos.Todas as fotos dela com Leonardo haviam sido despedaçadas e espalhadas pelo chão.Amanda jazia na cama, o rosto pálido como a morte, o peito quase imóvel.As pernas de Leonardo cederam, ele cambaleou e praticamente se lançou sobre ela, agarrando sua mão gelada com desespero.— Amanda! Olhe para mim! Eu não vou me casar! Acorde! Abra os olhos! — Sua voz tremia como se fosse se despedaçar junto com ela.Ao lado da cama, repousavam o frasco entreaberto de calmantes e uma carta de d
Quase um mês se passou sem que Leonardo entrasse em contato comigo.Parecia ter reservado todo o seu tempo apenas para Amanda.Aquela conta de Facebook que ele nunca atualizava começou, de repente, a se encher de registros dos dois.Como um casal comum, iam à ópera, viajavam para ilhas privadas, faziam todas aquelas coisas que ele, um dia, considerava sem sentido.A última postagem foi uma foto dele em um terno sob medida, ao lado de Amanda em um vestido de noiva.A legenda dizia: "Quero ver, pelo menos uma vez, a mulher que amo vestida de noiva."Dei um sorriso irônico, quase amargo, e deixei um "curtir".Depois desliguei o celular.No dia seguinte, Leonardo me ligou. — Juliana, traga os seus documentos. —A voz dele estava carregada de irritação e desagrado. — Esteja na igreja daqui a uma hora.Ele desligou sem sequer esperar minha resposta.Em cinco anos, era a primeira vez que ele mesmo tomava a iniciativa de marcar um encontro na igreja.Eu já estava prestes a digitar uma mensagem
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