Saí do consultório com o laudo nas mãos.
Câncer cerebral. Estágio intermediário a avançado.
"Se a senhorita se internar imediatamente para cirurgia e tratamento-alvo, talvez ainda exista uma chance mínima de sobrevivência." As palavras do médico ecoavam sem cessar na minha mente.
Dez anos atrás, durante uma série de atentados contra a família Rodrigues, meus pais se sacrificaram para proteger Leonardo, que na época ainda era apenas um adolescente.
O império empresarial da minha família desmoronou em seguida, caindo em falência quase da noite para o dia.
Se consegui sobreviver, e ser acolhida pelos Rodrigues, foi unicamente porque Dona Larissa seguiu à risca o antigo código de honra: "sangue por sangue, vida por vida."
Agora, todo o dinheiro que juntei ao longo dos anos não chegava nem perto de cobrir os custos da cirurgia e do tratamento.
Pensei por muito tempo, até decidir que não havia escolha: "Eu teria que procurar Leonardo em sua empresa."
A porta do escritório estava escancarada.
Amanda estava lá dentro, mexendo na pequena íris roxa sobre a mesa dele, enquanto Leonardo a observava com ternura, e com um sorriso amplo no  rosto.
Meus passos vacilaram na entrada.
Convivi tempo suficiente com ele pra saber que  Leonardo nunca gostou de flores. Mas parecia que, se fosse um presente de Amanda, até suas preferências poderiam mudar.
Leonardo ergueu os olhos e me viu. Endireitou levemente a postura, e a expressão suave que trazia se desfez em segundos.
— O que veio fazer aqui?
— Preciso que me empreste um pouco de dinheiro. Depois, eu devolvo. — Não escondi meu propósito, afinal, eu ainda queria viver.
— Srta. Juliana. — A voz de Amanda cortou o ar, carregada de desdém. — Dizem que, desde a morte dos seus pais, você vive às custas da família de Leonardo: comida, roupas, tudo. Agora ainda vem pedir dinheiro emprestado? Não acha isso um pouco vergonhoso? Ou será que aceitou se casar com ele apenas para arrancar fortuna?
O tom dela estava impregnado de insatisfação, e o olhar que transbordava provocação.
Ignorei os insultos e mantive meus olhos fixos em Leonardo.
Porém, ele desviou o olhar de propósito, e disse num tom rude:
— Amanda está certa. Precisar de dinheiro é problema seu. Depois do casamento, a dívida com seus pais será paga de uma vez por todas.
Meus punhos cerrados foram, pouco a pouco, se abrindo. A frieza dele me gelava até os ossos.
Debaixo da mesa, vi as mãos de Leonardo e Amanda entrelaçadas, dedos firmemente unidos.
No dedo dele ainda brilhava o anel de metal que meu pai havia deixado em seus últimos instantes de vida.
— Não precisa esperar pelo casamento. — Minha voz saiu rouca, quase desfeita.
O semblante de Leonardo se turvou por um instante, mas logo a compreensão lhe veio.
— Além de usar isso como chantagem, o que mais você sabe fazer? Seus pais salvaram minha vida, e daí? Eu sou obrigado a carregar essa dívida para sempre?
A paciência dele se esgotou por completo quando ordenou aos seguranças que me expulsassem dali.
No instante em que eu era arrastada para fora, ele ordenou a compra de um iate de luxo  no valor de oitenta milhões para Amanda.
Oitenta milhões seria suficiente para cobrir todas as minhas cirurgias e os meus tratamentos.
Lágrimas ardiam em meus olhos quando eu sorri, amargurada.
Tudo bem. Pelo menos Leonardo e eu  estávamos livres do compromisso.