Sentado em sua poltrona de couro, Dominic girava lentamente o copo de uísque entre os dedos. O líquido âmbar dançava sob a luz baixa do escritório. Do outro lado da sala, Donavan observava em silêncio, os olhos sempre atentos, como o escudeiro fiel que era.
— Dominic… — disse Donavan por fim, quebrando o silêncio. — Não é hora pra distrações. Ainda estamos tentando descobrir quem foi o filho da mãe que roubou nossa carga. Temos homens a interrogar, rastros a seguir, e traições pra cortar pela raiz. Dominic não respondeu de imediato. Levantou-se lentamente, levou o copo aos lábios e tomou o restante do uísque de uma só vez. O gelo tilintou no fundo. — Não são distrações — disse com voz firme. — Não se trata de "mulheres", Donavan. Trata-se dela… Isabella. Donavan ergueu uma sobrancelha, franzindo a testa. — Então é sério… Dominic caminhou até a janela e olhou para os jardins da mansão. — Mas não se engane — continuou ele. — Minha prioridade será sempre a famiglia. Eu não me distraio. Estou apenas… considerando possibilidades. O conselho insiste que está na hora de eu me casar. Mas não vou escolher a filha de um conselheiro, como esperam. Quero alguém fora disso. Alguém que não esteja corrompida por esse mundo podre. Donavan soltou uma risada baixa. — Engraçado… até alguns meses atrás, você espirrava só de ouvir a palavra “casamento”. Agora tá aí, falando em noiva perfeita? Dominic lançou-lhe um olhar de canto, quase sorrindo. — Até os homens de pedra mudam, Donavan. Finalizaram o segundo copo de uísque em silêncio. A tensão pairava no ar como fumaça densa, mas havia também uma certa cumplicidade entre os dois. Sabiam que a noite estava apenas começando. Dominic jogou o casaco sobre os ombros, colocou os óculos escuros mesmo sendo quase noite, e saiu. Donavan o acompanhou. Lá fora, o Knight XV os aguardava. A máquina de guerra sobre rodas reluzia sob a luz do luar. Preta, imponente, uma extensão do próprio Dominic. Entraram no carro e seguiram rumo à boate da noite anterior — o mesmo lugar onde os olhos dele haviam cruzado os de Isabella pela primeira vez. Mas desta vez o objetivo era outro. O clima no carro era tenso. Donavan revisava mentalmente os detalhes do encontro. Dominic permanecia em silêncio, os olhos fixos à frente, mas a mente trabalhando a mil. — Você tem certeza que quer ir pessoalmente? — perguntou Donavan, quebrando o silêncio. — Podemos mandar alguém… — Não — respondeu Dominic, seco. — Isso é entre mim e o Lazaro. Ele pegou o que era meu. E eu não negocio o que me pertence. — E se ele não quiser devolver? — Então vai morrer. A resposta foi crua, sem rodeios. Donavan assentiu. Era assim que Dominic sempre foi. Direto. Implacável. Chegaram à boate e foram imediatamente conduzidos a uma sala privada no andar de cima. A música pulsava nos andares inferiores, mas ali dentro, o silêncio era mortal. Lazaro estava à espera. Alto, com cabelos escuros e um sorriso de cobra no rosto. Levantou-se quando Dominic entrou, estendendo a mão. Dominic não correspondeu. — Lazaro — disse Dominic com a frieza de um rei diante de um súdito traidor. — Dominic… pensei que enviaria um dos seus cães. Me sinto honrado. — Não precisa se sentir. Só estou aqui porque quero ouvir da sua boca por que diabos você está com a minha carga. Lazaro sorriu. — Não sabia que era sua. Negócios são negócios, não é? Dominic se aproximou devagar. Donavan ficou ao lado da porta, como uma sombra. — Você sabia. Não subestime minha inteligência, Lazaro. Eu sei que você comprou meus homens. Sei que alguém de dentro passou informação. E sei que a carga está no seu depósito na costa sul. — E o que vai fazer, Dominic? Me matar aqui? — Ainda não decidi. Mas vou deixar algo claro: ou devolve tudo o que é meu — sem pedir um centavo — ou eu vou tomar, e quando tomar, você vai assistir o seu império ruir de dentro pra fora. Lazaro perdeu o sorriso. — Isso é uma ameaça? — É uma promessa. Dominic se virou e saiu. Donavan o seguiu sem dizer uma palavra. No caminho até o carro, a tensão ainda os cercava. Já dentro do Knight XV, Donavan quebrou o silêncio: — Você acha que ele vai ceder? Dominic ligou o carro, a mandíbula travada. — Não. Mas ele deveria. E com isso, acelerou rumo à escuridão da noite. O Knight XV estaciona discretamente na entrada do restaurante. Um local requintado, discreto, à beira do rio, com poucas mesas e atendimento apenas por reserva. Um reduto de paz em meio ao caos da cidade — e um dos poucos lugares onde Dominic se permitia baixar a guarda. Ainda assim, não deixava de manter a pistola no coldre sob o paletó. Donavan desce logo atrás, observando os arredores com olhos atentos. Os dois caminham até a mesa já reservada, em um canto reservado, longe dos olhares curiosos. — Dois traidores, Dominic — comenta Donavan, puxando a cadeira. — Um confirmado. O outro… ainda falta descobrir. — Descobriremos. — Dominic responde com calma, como quem fala de algo inevitável. — E quando descobrirmos, serão os últimos erros que eles vão cometer na vida. Donavan apenas balança a cabeça, já acostumado com o tom gelado do amigo. Antes que pudessem continuar a conversa, o celular de Dominic vibra sobre a mesa. Ao ver o número, seu olhar muda. Ele respira fundo antes de atender. — Conselheiro. — diz, em tom formal. Do outro lado da linha, a voz do homem é grave e direta: — Dominic, você já teve tempo demais. O conselho está impaciente. Você sabe que a figura da primeira-dama é importante. Alguém que represente firmeza, fidelidade… elegância. Alguém à altura de um líder. Dominic permanece em silêncio, o maxilar travado. — Estou oferecendo a minha filha, Dominic. Criamos ela para esse papel. Ela entende o que significa estar ao seu lado. A união de nossas famílias só fortalece o nome da nossa organização. Donavan ergue os olhos da taça, prestando atenção em cada palavra da conversa. O garçom se aproxima com as refeições, mas Dominic levanta a mão, sinalizando para que espere. — Com todo respeito, Conselheiro… — Dominic finalmente responde, com um sorriso enviesado no canto da boca — sua filha pode ser muitas coisas. Mas a mulher que ocupará esse lugar ao meu lado será uma escolha minha. Não do conselho. Do outro lado, o conselheiro perde o tom diplomático. — Está recusando a minha filha, Dominic? Sabe o que isso significa? — Sei exatamente o que significa. E se isso incomoda o conselho, talvez esteja na hora de reverem quem estão tentando controlar. Eu não sou um fantoche, e minha mulher não será uma peça no tabuleiro de ninguém. A tensão cresce, e Donavan apenas mastiga lentamente seu prato, sem se meter. Conhecia bem aquele tom de voz do amigo. E sabia que, quando Dominic falava daquele jeito, não havia espaço para negociação. — Você está cometendo um erro — disse o conselheiro, seco. — Eu nunca erro em assuntos de coração. — Dominic finaliza e desliga, sem dar chance de resposta. Por alguns segundos, apenas o tilintar dos talheres de Donavan quebra o silêncio. — E você ainda diz que não está distraído com mulheres… — provoca Donavan, com um leve sorriso. Dominic se recosta na cadeira, pega o garfo, e enfim começa a comer. — Eu não estou. Mas essa… — ele olha para a mesa, como se visse o rosto de Isabella ali — essa é uma escolha que eu mesmo vou fazer.O silêncio entre Dominic e Donavan à mesa era denso. O jantar havia esfriado, e a tensão do telefonema ainda pairava no ar. Dominic girava o copo de uísque com lentidão, os olhos fixos em um ponto qualquer da toalha branca.Foi quando um lampejo cortou sua mente como uma lâmina: Isabella.— Merda... — murmurou, passando as mãos pelo rosto.Donavan o observava com o canto dos olhos, e um sorriso debochado surgiu no rosto dele.— Pior que um tiro... é uma mulher esquecida.Dominic soltou um riso abafado, mais de frustração que de humor.— Com tudo isso... eu simplesmente esqueci que ela estaria me esperando. — Ele se levantou num ímpeto, jogando a guardanapo sobre a mesa. — Vamos. Ainda dá tempo de salvar essa noite.Donavan ergueu-se em seguida.— Isso se a noite não decidir te matar antes.Ambos caminharam para fora do restaurante. O ar noturno estava pesado, quase como um presságio. A brisa carregava um cheiro distante de gasolina e pólvora — ou talvez fosse apenas paranoia. O Knight
As paredes da casa estavam silenciosas demais para uma noite de Domingo na Sicília. Isabella caminhava pela sala com passos lentos e inquietos, lançando olhares constantes para o relógio pendurado na parede. Os ponteiros marcavam exatamente meia-noite. Ela suspirou fundo, frustrada.— É claro que ele não vem... Homens como ele só aparecem quando querem! — murmurou para si mesma.Sofia havia saído mais cedo com Roberto para uma festa de algum conhecido da família, deixando Isabella sozinha com os pensamentos e a espera. A jovem não fazia ideia do que havia acontecido com Dominic, e isso a deixava ainda mais irritada do que a sua ausência em si.Sentindo o estômago roncar de fome, ela foi até a cozinha e abriu a geladeira. Vasculhou por alguns minutos, fazendo caretas para as sobras de comida ou para os ingredientes que exigiriam tempo e paciência que ela não tinha. Resignada, pegou o celular e ligou para a sua pizzaria favorita.— Uma marguerita grande, por favor. E pode colocar bastan
Dominic despertou com um incômodo no ombro esquerdo. O ferimento ardia levemente, lembrando-o dos últimos acontecimentos. Levantou-se devagar, sentindo o lençol colado à pele pelo suor da noite mal dormida. Passou a mão pelo rosto, tentando dissipar o cansaço e a dor que se misturavam em silêncio. Pegou o celular na escrivaninha ao lado da cama e, ao ver o horário — 9:00 — soltou um suspiro impaciente.Dirigiu-se ao banheiro e girou o registro do chuveiro. A água quente deslizava sobre sua pele como uma tentativa de apagar os rastros da violência da noite anterior. Ficou ali mais tempo do que o habitual, em silêncio, com os olhos fechados, como se esperasse que a água levasse embora o peso em seus ombros — e não apenas o físico.Ao sair, vestindo apenas uma toalha, Dominic encontrou Donavan sentado na poltrona no canto do quarto. Ele segurava um copo de água e uma cartela de remédios. Sem dizer nada de imediato, Donavan se levantou, estendeu o copo e os comprimidos ao amigo e o cumpri
Dominic saiu do carro com passos firmes, o sol da Sicília se escondia atrás de nuvens pesadas, anunciando o mau presságio que ele já sentia no ar. O prédio onde ficava seu escritório era afastado do centro da cidade, discreto por fora, mas fortemente protegido. Era ali que decisões importantes eram tomadas, longe dos olhos curiosos da sociedade.Donavan andava ao lado dele, observando tudo ao redor. Assim que entraram no hall de entrada, Dominic ajeitou os punhos da camisa branca impecável e soltou um suspiro de tédio misturado com tensão. Ele não gostava de reuniões, mas sabia que parte de ser líder da famiglia era ouvir reclamações e controlar egos inflados.— Preciso de alguns minutos, preciso resolver uma ligação urgente. — Donavan falou, afastando-se discretamente.— Tudo bem. Encontre-me lá dentro. — Dominic respondeu seco, já caminhando em direção à sala de reuniões.Ao abrir as portas pesadas de madeira escura, todos os olhares se voltaram
Mesmo com o cansaço do dia arrastando-se por cada músculo de seu corpo, Isabella não conseguia simplesmente se render ao silêncio da noite. Havia algo nela que insistia em sair, respirar, olhar para o mundo lá fora. Era como se o vazio do sofá e a quietude da casa estivessem pressionando demais seu peito. Depois de lavar o rosto e colocar um vestido simples, mas charmoso, ela pegou a bolsa e saiu sem rumo certo, apenas com a ideia de espairecer e talvez tomar um sorvete — sorvete de pistache, seu favorito desde criança. As ruas estavam tranquilas, mas vivas. Algumas famílias passeavam com suas crianças, casais andavam de mãos dadas como se o mundo inteiro se resumissem aos olhares que trocavam. Isabella caminhava devagar, saboreando cada colherada do doce gelado que comprara em uma pequena sorveteria de esquina. Sorriu ao ver um garotinho tentando esconder um brinquedo novo atrás das costas da mãe. Ela não pôde deixar de pensar: "Será que um dia terei isso? Uma famíli
Dominic revirava-se na cama, inquieto. Os minutos pareciam horas, e o sono simplesmente se recusava a vir. A madrugada avançava preguiçosamente, mergulhando a casa em um silêncio quase sufocante. Ao longe, ouvia-se apenas o som sutil das folhas balançando com o vento. Ele se levantou, ainda com o gosto amargo do pesadelo anterior entalado na garganta.Decidiu que revisaria algumas papeladas no escritório, talvez o trabalho o ajudasse a colocar os pensamentos em ordem. Vestiu a parte de baixo de seu pijama, amarrou-o com descuido e caminhou até a escrivaninha onde deixara o celular. Quando a tela acendeu abruptamente, uma sequência de alertas apareceu.Os olhos de Dominic se estreitaram ao ler as notificações. Algo estava errado.Sem pensar duas vezes, pegou a arma que mantinha guardada discretamente na gaveta da cômoda. Seu instinto gritava. Aquele tipo de alerta não era normal.Ao descer as escadas apressado, o coração acelerou ainda mais. Quando chegou à sala, parou no meio do camin
A Sicília sempre foi palco de paixões intensas, promessas perigosas e histórias que desafiam a lógica. No coração dessa ilha banhada por segredos e tradições, Isabella nunca imaginou que sua vida tomaria um rumo tão sombrio e arrebatador. Bastou um olhar. Um encontro. E tudo que ela conhecia desmoronou.Dominic, o homem que carrega o sangue da máfia nas veias, não é alguém que se ama sem consequências. Ele é o tipo de homem que não pede permissão — toma. E ao cruzar o caminho de Isabella, a calma da sua vida foi engolida pelo caos.Ela, com sua doçura e força silenciosa. Ele, com seu passado manchado de sangue e honra. Ambos travados em um destino onde amor e perigo andam lado a lado. Entre flores deixadas pela manhã e jantares interrompidos por tiros, Isabella aprenderá que amar Dominic é dançar na beira do abismo — onde cada passo pode ser o último.Mas talvez... seja exatamente isso que faz o coração bater mais forte.A dor latejava em seus pulsos, amarrados com força demais para p
As luzes da balada piscavam em tons de vermelho e azul, acompanhando o ritmo pulsante da música que ecoava como um coração acelerado. Corpos se moviam ao som da batida, copos tilintavam, risos escapavam por entre a fumaça artificial, e no meio de tudo isso… estava ela.Dominic encostou-se ao balcão com um copo de uísque na mão, o olhar cravado nela como se o resto do mundo simplesmente tivesse deixado de existir.— Você tá obcecado ou apenas entediado? — provocou Donavan ao seu lado, erguendo a sobrancelha ao notar a concentração do amigo. — Porque não é comum te ver tão fixado em alguém.Dominic não respondeu. Apenas ergueu o copo até os lábios, sem tirar os olhos da mulher que dançava no meio da pista. Cabelos soltos, expressão entregue, movimentos sensuais sem serem vulgares. Ela não dançava para chamar atenção, mas por estar sentindo a música… como se naquele instante nada mais importasse.Ele não sabia seu nome ainda, mas já sentia que era dela que viria o caos. A paz nunca o atr