Eu não estava ali por acaso. Também não estava por coragem. Eu só queria esquecer.Era o tipo de lugar que minha mãe detestaria — luxuoso, decadente e com cheiro de pecado. A Boate Verona era conhecida por atrair milionários entediados, empresários corruptos e os tipos de homens que não se acham no Google. Mas pra mim, naquela noite, era o esconderijo perfeito. Depois de pegar o Arthur com outra na cama que eu pagava, eu só queria uma bebida forte e a sensação de que eu ainda era dona de mim.O ambiente era envolto em veludo vermelho, luzes âmbar filtradas por lustres de cristal, e uma trilha sonora que misturava jazz moderno com batidas eletrônicas sutis. O bar, todo em mármore preto com detalhes em dourado, parecia saído de um filme de gângster.Me aproximei e pedi um uísque duplo. A bartender me olhou de cima a baixo, surpresa. Uma mulher bem-vestida, sozinha, pedindo dose dupla como se precisasse daquilo pra não desmoronar.— Duro dia, princesa? — a voz veio de trás. Grave, leveme
Acordei com a cabeça latejando e um gosto amargo na boca. Não sei se era o uísque ou o arrependimento. Talvez os dois.O quarto do hotel era pequeno, mal iluminado e com cheiro de cigarro impregnado nas cortinas. Uma versão decadente da liberdade que eu tanto buscava. Me espreguicei na cama e tentei não pensar em Dante. Mas era inútil. A memória dele estava impressa em mim como uma tatuagem invisível — o olhar selvagem, a presença imponente, o jeito como parecia me despir com os olhos sem precisar tocar.Aquele homem não era só atraente. Ele era… hipnótico.Tentei lembrar dos detalhes. O terno escuro, perfeitamente alinhado ao corpo forte. A maneira como os outros na boate pareciam abrir caminho para ele. Ninguém se aproximava demais. Ninguém ousava questionar. E quando Léo murmurou o nome Dante com aquele respeito quase temeroso, algo em mim se acendeu.Quem diabos era ele?Me obriguei a sair da cama e encarar o dia. Uma garrafinha de água, duas aspirinas e um café preto depois, segu
O tempo passou como uma névoa espessa e pesada. Os dias se arrastaram entre a faculdade, os compromissos e a rotina que, de alguma forma, me afastava de tudo o que eu queria evitar. Ou talvez, mais precisamente, de tudo o que eu queria entender. E Dante… ele não saía da minha cabeça.Às vezes, parecia que ele me perseguia. Eu o via em todos os cantos, no modo como o vento fazia a capa do meu casaco se mover, no brilho metálico dos carros estacionados na rua, no toque sutil de alguém passando por mim, quase tocando. Ele me rondava, mas de uma forma silenciosa, quase imperceptível. E isso me deixou obcecada.Tentei seguir com minha vida. Dei a desculpa de estar ocupada para evitar sair e encontrar Léo, que, por mais simpático, não conseguia apagar a marca de Dante. Nem que eu tentasse — e tentei.Mas o universo parecia ter seus próprios planos.Foi numa terça-feira que, ao sair da faculdade, o vi novamente. No mesmo lugar, com a mesma postura. A presença dele era ainda mais imponente, m
Não consegui ficar parada depois daquilo.As palavras dele ficaram martelando na minha cabeça o resto do dia. “Isso é um convite.” E por mais que eu tentasse fingir que não, que era só charme, só provocação, alguma coisa dentro de mim já tinha decidido.Antes que o sol terminasse de se pôr, eu estava em frente à boate Verona de novo.Dessa vez, sem maquiagem borrada, sem o vestido colado. Eu estava sóbria — e talvez pela primeira vez, indo até Dante por vontade própria. Não era o uísque falando. Era eu.A fila na porta era longa, como sempre. Mas bastou o segurança me ver para que ele tirasse a corrente e deixasse que eu passasse. Senti os olhares, os cochichos. E ignorei todos.Lá dentro, a Verona parecia ainda mais surreal do que da primeira vez. Luzes vermelhas e douradas desenhavam o ambiente como se fosse um teatro do pecado. Móveis caros, gente bonita demais, champanhe borbulhando em taças de cristal e cigarros finos dançando entre dedos pintados de vermelho sangue.Léo me viu p
A mão dele ainda tocava meu rosto quando eu cedi.Talvez tenha sido o cheiro — couro, fumo e um perfume amadeirado que parecia pecado engarrafado. Talvez o jeito como ele me olhava, como se já tivesse me despido só com os olhos. Ou talvez… talvez eu só estivesse cansada de fingir que não queria.Ele não pediu permissão. Dante não era do tipo que pedia.Me puxou pela cintura, colando nossos corpos, e me beijou como se o mundo estivesse acabando. Um beijo urgente, quente, profundo. Mãos grandes segurando meu quadril, me guiando pelo corredor como se eu já fosse dele.Passamos por uma porta discreta, protegida por um segurança que apenas assentiu com a cabeça. Entramos em um corredor de madeira escura, silencioso, até uma porta dupla. Dante abriu, me empurrando gentilmente para dentro.A sala era puro poder.Móveis de couro escuro, uma estante de bebidas importadas, paredes em tons quentes. Mas o que me tirou o fôlego foi a enorme parede de vidro que dava direto para a pista de dança da
Acordei com o sol batendo no rosto e a mente em torvelinho.Ainda estava no quarto dele, na boate Verona. Enrolada nos lençóis de linho macio, com o cheiro dele impregnado em mim. No corpo. No travesseiro. No fundo da minha garganta.Dante não estava ali.Levantei, vesti minha roupa da noite anterior e caminhei devagar até a porta. Precisava sair antes que a loucura me engolisse por completo.Mas o destino, mais uma vez, tinha outros planos.No corredor, passei por uma porta entreaberta e, por curiosidade — ou burrice —, olhei pra dentro.E o que vi ali mudou tudo.Era uma sala pequena. Discreta. Um escritório secundário, talvez. Mas o que me arrepiou foi o conteúdo da mesa: pastas pretas, fotos impressas, documentos com carimbos oficiais, anotações em códigos e… meu nome.Meu nome.Tremendo, me aproximei. A pasta estava aberta. No canto superior, lia-se claramente: Helena Damasceno – Observação e Perfil.Minha garganta secou.Ali dentro, havia registros meus da faculdade, fotos minha
Cheguei em casa com o mundo girando.Minhas mãos ainda tremiam depois da conversa com minha mãe. Cada palavra dela parecia uma faca — e o nome “Bellini” ainda ecoava nos meus ouvidos como um presságio.Dante Bellini.O homem que me fez gozar contra uma parede de vidro. Que me olhava como se eu fosse a única verdade dele. Que sussurrava meu nome como se pertencesse a ele.E também o homem que, de alguma forma, estava ligado à queda do meu pai.Joguei a bolsa no sofá e fui direto para o banheiro. A água quente bateu nas minhas costas como um tapa, mas nada lavava aquela sensação de estar sendo engolida viva por um segredo maior do que eu.“Você se envolveu com a porra de um mafioso, Helena.”Saí do banho, enrolei a toalha no corpo e fui até o quarto. A escuridão me acolheu — até ser rasgada por um som que me fez parar.Uma batida na porta.Coração disparado, me aproximei da entrada devagar, pés descalços no chão gelado. Olhei pelo olho mágico.Dante.Meu corpo inteiro reagiu, mesmo cont
POV: DanteO cheiro dela ainda estava nas minhas mãos.Helena era fogo e faca. E eu, um homem que sabia brincar com a morte, mas nunca soube lidar com amor. Muito menos com a ideia de perder alguém que sequer tive por completo.Desci até a garagem do prédio dela e entrei no carro. O motorista já me esperava, com o semblante tenso.— Seu tio quer vê-lo. Agora.Fechei os olhos por um segundo. Isso não era bom.A mansão dos Bellini ficava afastada da cidade, cercada por muros altos, câmeras e segredos enterrados. Entrei no salão principal com o coração acelerado, como se minha alma soubesse que alguma coisa estava prestes a ruir.Meu tio, Salvatore Bellini, estava sentado na poltrona de couro como um rei decadente — charuto aceso, terno alinhado, olhos duros.— A gente fez um trato, Dante. Você cuida dos negócios, mas mantém o coração fora disso.— Eu sei o que tô fazendo.— Sabe? Porque parece que tá comendo uma garota que deveria ser apenas mais um nome no meio da multidão. Mas não é,