Angelina Garcia
A manhã de sábado era tórrida.
Ele chegou fedendo a uísque e perfume de mulher.
E eu... eu já tinha minhas respostas.
Junto delas, um desejo imenso de chorar. Mas segurei. Segurei como quem finge não sentir, como quem já sabe o roteiro da queda e se recusa a participar.
Doutor Saulo foi direto para o banheiro. Demorou lá. E quando saiu, parecia outro. Novo. Mas não estava.
O batom na camisa persistia.
As marcas roxas no pescoço também.
Desviei os olhos quando ele continuou abotoando a camisa, como se não tivesse nada demais ali. Como se a noite anterior não tivesse sido cheia.
E foi.
Talvez não comigo. Mas com certeza, com alguém.
Se não era eu, seria outra. Sempre há outra.
O cliente chegou.
Peguei as anotações, deixei sobre a mesa dele em silêncio.
Ele falava com o senhor Braga, tranquilo, a voz firme como se não tivesse voltado de um motel cinco horas atrás.
Eu apenas saí.
Não tinha condições de ficar ali, encenando frieza.
— Para onde você vai? —
A pergunta veio co